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Autismo, entre adivinhar e conscientizar

A consciência sobre o autismo pede cuidado e muita paciência. Mesmo pais e parentes de autistas temos dificuldades com certas situações. Veja que meu filho João Gilberto tem 12 anos e foi diagnosticado autista com pouco menos de 3 anos de idade. Tenho, pois, pelo menos 10 anos de vivência com o autismo. E o Dia Mundial de Conscientização do Autismo costuma começar com a solidariedade de muita gente, felizmente. Mas esse 2 de Abril de 2018 foi diferente. Voltando de viagem, desembarquei com minha família no aeroporto de Rio Branco nas primeiras horas do dia. Depois da longa viagem aérea seria natural o João estar estressado, mas ele chegou bem humorado. E ali no desembarque pediu para ir ao banheiro. Agitado – mas não birrento; sorria e pulava, seguiu quase correndo e não me deu chance de contê-lo, então passou à frente de um senhor lhe tomando a vez de acessar o toalete. O homem, com razão, não gostou daquilo, “mau educado”, “mau criado”, certamente pensou e disse algo ríspido que não consegui entender bem. “Ele é autista…” falei e antes que completasse o meu pedido de desculpa, o cidadão retrucou “não dá pra adivinhar, desculpa!”, deixando em dúvida a sinceridade da desculpa. Então emendei minhas desculpas sinceras e concordei que não dá pra adivinhar, afinal o João é um garoto de 1,70 metros, forte, bonito.
Viver situações que as pessoas não têm obrigação de saber lidar, até porque “não dá pra adivinhar”, é da rotina dos autistas e suas famílias. Por isso insisto em dizer que o 2 de Abril não é o Dia Mundial do Autismo, mas o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Há nisso a diferença de falar “vamos pensar pouco”, ou “vamos pensar um pouco sobre o assunto”. Pensar pouco é nada, pensar um pouco é uma forma suave de chamar à reflexão. Um Dia do Autismo seria, assim, uma data em que nós, famílias com autistas, nos reuniríamos sós ou entre nós em dedicação aos nossos meninos e meninas diferentes – mas isso nós já fazemos todo santo dia. O Dia Mundial de Conscientização do Autismo é um chamado à todos para pensar um pouco na condição de tanta gente enclausurada nesta síndrome que se expande assustadoramente.
O Transtorno do Espectro Autista tem causas multifatoriais e efeitos tão diversos que faz cada autista único. Mas toda pessoa normal também é única, nos dizem e isso conforta, mas a especificidade de cada autista tem a ver com a complexidade de uma síndrome que age de forma única em cada pessoa atingida, dificultando desde o diagnóstico e a prescrição de medicamentos, até a adoção de práticas que possibilitem melhorar a qualidade de vida e a integração social dos autistas.
Se a ciência ainda patina na busca de soluções para o autismo, o amor é capaz de produzir resultados fantásticos na vida dos autistas. E neste mundo conturbado por tantas situações que não dá pra adivinhar, um pouco de consciência é algo que você também pode ter e oferecer.


*Gilberto Braga de Mello é jornalista e publicitário.

Fabiano Azevedo: