“Crianças brincando estão entre as coisas mais
bonitas e valiosas deste mundo”
Fizeram da praça no centro da cidade um campo de futebol. E, contentes, desfrutavam o fim de tarde.
Sobre tal ocupação bem sei o que diria a velha-eu a serviço do conservadorismo estéril: que a garotada havia invadido um espaço público, que não era direito seu afetar a passagem dos transeuntes e mais uma coleção de engessados blá-blá-blás. Mas nesse momento, apenas ri dessa personagem em decadência.
Eu mesma fiz foi me enternecer com a cena. Depois de tudo o que meus olhos já viram e meu coração sentiu, sei que crianças brincando estão entre as coisas mais bonitas e valiosas deste mundo: são seres humanos festejando e promovendo a vida.
Então, enquanto desviava o meu trajeto para colaborar com sua alegria, torci pelos dois times, por todos os meninos, todas as meninas.
E lembrei o motivo fundamental que reposicionou meu olhar para o entorno quando imaginei ali, jogando com eles, meu filho, apaixonado por bola. Ah, ele entraria fácil naquela brincadeira!
Mas, tão ligeiro e independente, tem sede de viver e já alçou seus próprios voos. Passou como um mestre pela minha vida, tanto me exigiu, e também como um anjo, tanto me deu.
Os tesouros de nossa convivência, que nasceu em meu ventre e se desenvolve até hoje, eu ainda os estou descobrindo, a bordo do tempo. E guardo apenas reverências a essa experiência.
Por isso, duas coisas me entristecem neste planeta: por um lado, crianças concebidas de forma irresponsável e abandonadas, física ou emocionantemente, inclusive dentro de famílias. E, por outro, sociedades que, entorpecidas pelo excesso de civilização, já não as querem mais. Ambos os casos, que aliás cultivam viciosa relação entre si, evidenciam a profunda crise moral da espécie humana.
Entretanto, como ainda nos cabem os sonhos, não me furto de ansiar: quem me dera os seres humanos descobrissem, com respeito e acolhimento, as grandes lições que as crianças nos trazem e, na proporção devida e saudável, compreendessem o valor do cuidar e do brincar.
Onides Bonaccorsi Queiroz