“A população merece um posicionamento para o fato por parte da prefeitura do município”
O secretário de Agricultura do município de Rodrigues Alves, Neto Lima, foi preso pela Polícia Federal, na última sexta-feira, dia 11. O assunto não ganhou tanto destaque assim na mídia local. Ocorreu meio que ‘na surdina’, numa tarde monótona, sem aquele estardalhaço todo que usualmente vem acompanhando a prisão de gestores quando é feita pela Polícia Federal. Tudo muito discreto, igual casamento de celebridade quando quer se esconder da mídia.
Mas nem essa discrição tira a gravidade do fato.
A Polícia Federal relata ter recebido denúncia anônima informando que o gestor em questão estaria utilizando um caminhão da prefeitura para transportar madeira para Cruzeiro do Sul. Os agentes da PF foram apurar a denúncia e abordaram o referido caminhão logo após ele ter feito à travessia da balsa entre os dois municípios.
Discursos políticos à parte, o fato é sério. O secretário foi enquadrado pelo crime de peculato e pode ser condenado de 2 a até 12 anos de prisão. Se confirmarem as acusações, estaremos diante de um clássico caso de corrupção. Mais um na conta do Brasil, mais um no nosso Acre.
“Era só um caminhão! Quantos que não fazem coisas parecidas, ou até pior?”, alguns podem tentar justificar. De fato, a denúncia parece algo pequeno, meio banal, ainda mais perante a tudo o que outros políticos de mais cacife já fizeram, fazem ou ainda vão fazer. No entanto, é um ato simbólico. Se não for combatido, severamente, pode se tornar algo grande (ou, quem sabe, pode até já fazer parte de algo maior disso que está escancarado?)
A ‘viagem do caminhãozinho’ precisa, sim, ser investigada e, se comprovadas às acusações, deve o gestor pagar pelo crime. Deve-se atirá-lo na prisão e jogar a chave fora? Não acredito que seja essa a solução. Mas uma punição deve ser dada, para o episódio não passar impune, e para que outros que façam ou planejam fazer algo parecido saibam que sair da linha traz consequências.
Além disso, a população merece um posicionamento por parte da prefeitura do município. Se o gestor for inocente, que o defendam, refutem as provas alegadas contra ele. Se for culpado, que o punam e reprovem sua conduta. O silêncio nessas horas não é bom. Só desgasta mais o poder público municipal, e deixa uma lacuna na interpretação que o povo vai dar para o fato.
* Tiago Martinello é jornalista.
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