“Quando o assunto é política partidária, a coisa é enfadonha, tediosa mesmo. Flutua do simplório a mediocridade e, quase sempre, exala mau cheiro.”
A pauta do noticiário cotidiano, de interesse público ou não, sob o comando dos meios de comunicação, inclui-se aí as redes sociais, nada mais é do que vãs repetições. Quem se detiver a ler o conteúdo das manchetes diárias da mídia em geral, constatará que é tudo a mesma coisa, é sempre a mesma estória. Todo dia é a mesma lengalenga. Especialmente quando o assunto é política partidária, a coisa é enfadonha, tediosa mesmo. Flutua do simplório a mediocridade e, quase sempre, exala mau cheiro.
Então, nesse caso, para não fugir a regra, eis me aqui, novamente, a falar das vicissitudes existenciais, dessa cultura ociosa e desenfreada, que atende pelo nome de distração ou prazer excessivo. Nada, do conceito de algo, é suficientemente necessário e satisfatório para essa gente contemporânea. A aparente conquista por melhores salários e menor carga horária de trabalho, conseguida através de décadas de luta, por milhões de pessoas no mundo inteiro, visando um bom lazer, tempo para a família etc., começa a ruir em função da má utilização do tempo disponível.
Muitos não encaram isso como um problema, mas os psicólogos, psiquiatras e sociólogos estão começando a compreender que a questão poderá ser o principal problema psicológico das futuras gerações. Se tais previsões vierem a efetivar-se na prática, a vida logo se tornará, virtualmente, uma seqüência só de divertimento sem qualquer trabalho.
Que faremos, então, com todo esse tempo disponível? Alguns têm proposto que devemos repensar a natureza e o propósito das férias. Outros acreditam que devíamos olhar as “folgas” como oportunidade para descanso e renovação genuínos e, assim, como meios para restringir o “impulso” individual e da sociedade engendrada por uma ética de trabalho que se tornou imprópria.
Filósofos, dos dias passados, já anteviam esse desastre: diziam que a questão essencial está em saber o que as pessoas farão com o seu tempo de folga, pois a grande maioria de nosso povo não está emocional e ou psicologicamente pronta para dispor de tempo livre. Hoje, o crescimento rápido do entretenimento despudorado produz mais crimes, mais destruição de lares, mais problemas psicológicos do que poderíamos imaginar. Nas últimas décadas, o caráter coletivo, a ética e a consciência pública das pessoas têm sido desgastados cada vez mais pela mídia pública e a indústria do entretenimento. Em função disso, já é possível ver o potencial de crime entre nós, ao examinarmos o vandalismo, o banditismo da juventude desocupada, nos quadrantes das cidades brasileiras.
O mais trágico de tudo é que qualquer alma humana que ousar reagir contra essa inclinação perversa do brasileiro, é nomeada, na melhor das hipóteses, como falsa e moralista. A insensatez é grande, pois não se concebe mais um modo de vida estético equilibrado, vida de prazeres comedidos, que por si só, se contrapõe, não apenas a dor, mas, sobretudo, o tédio.
A declaração polêmica do historiador, ensaísta e professor escocês Thomas Carlyle (1826-1866) “Uma vida fácil não é para homem algum, ou para deus algum” soa, nos dias de hoje, como mais uma máxima falaciosa, pois a massa envolvida pelo “bel-prazer” não quer mais produzir, mal acostumada com o “lucro fácil” espalhados como metástases cancerosas pelo Brasil,zil,zil, zil, zão afora. Indução perversa que faz com que a nossa civilização, especialmente a ocidental, esteja caminhando para o declínio completo. Massa com tendências suicidas: idolatria pela tecnologia; proliferação das drogas alucinógenas; conflitos urbanos violentíssimos e consumismo exagerado.
Assim, excessivamente, a maioria da população está entregue a uma vida desregrada de prazeres. Opta por viver à beira do abismo das paixões, isto é: catarse, sentimento ou emoção levado a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão.