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Os cristãos – A experiência de pecado – A força da Misericórdia

Irmão(ã) leitor(a) do Jornal A GAZETA, Paz e Bem! Neste mês, gostaria de refletir com vocês sobre o mistério da iniquidade humana, que muitas vezes assola nossas famílias, nossas igrejas, trazendo desconforto e desorientação: a experiência do pecado. Frente a este tema, temos muitas reações, às vezes contrárias a Misericórdia proposta pelo Senhor, capaz de curar e reintegrar a pessoa vida de Deus. É preciso cuidar de nosso coração duro, para que ele não seja um obstáculo à verdadeira Misericórdia, que leva o irmão à reconciliação com o Senhor e com a Igreja. Vejamos alguns exemplos de ação reconciliadora do próprio Senhor.
Cinquenta dias depois de ter experimentado um fracasso vergonhoso e imperdoável: abandono, traição, vergonha do mestre; na ocasião mais imprópria possível (na madrugada da Sexta-feira da Paixão, logo após a crise pela qual Jesus passou no Getsêmani), São Pedro se levantou, junto com os outros onze apóstolos, e em voz bem alta começou a pregar: “homens da Judeia e vós todos de Jerusalém, prestai atenção às minhas palavras…” (At 2.14). Naquele mesmo dia, quase três mil pessoas se juntaram ao minguado grupo de 120 discípulos (At 2.41). A essa altura, o apóstolo já havia sido restaurado plenamente pelo próprio Jesus Cristo (Jo 21,15-17). A tríplice declaração de amor de Pedro por Jesus e a tríplice missão dada a ele por Jesus (“Tome conta das minhas ovelhas”) limparam não só a alma, mas também o nome de Pedro. O poder da Misericórdia apagou seus pecados e o transformou em um novo homem.
As três mulheres sem nome (a mulher samaritana, a mulher pecadora e a mulher adúltera) cometeram desvios graves, mas Jesus impediu que elas ficassem desmoralizadas para sempre, perdoando-as e concedendo-lhes a oportunidade de não continuar naquela vida de pecado. Mas mediante o arrependimento buscar uma vida nova, transformada pela Misericórdia.
Em sua meia idade, o rei Davi pecou contra Deus, contra suas mulheres, contra o general do exército, sua esposa e contra o povo, mas não ficou desmoralizado para sempre. Por uns dez anos, sofreu calado e humildemente, as consequências do escândalo que havia cometido, mas Deus não o abandonou, nem o proibiu de compor novos Salmos, e ele morreu bem velho e “respeitado” (1Cr 29,28) ou “cheio de honras”. Mas ele experimentou a força da Misericórdia em sua vida.
A plena restauração de um irmão ou irmã, que estão ou não à frente de um ministério, não depende só dele e de Deus. Ele, arrependido e contrito, confessa a Deus o seu pecado, e Deus, misericordioso e longânime, perdoa-o e restaura-o.
Porém, em geral, a igreja de coração fechado, não esquece, não perdoa, não abençoa e não deixa que a pessoa responsável pelo escândalo suba ao lugar onde antes estava, mesmo que com lágrimas e humildade tenha, diante de Deus condições morais para galgar a antiga posição. O membro da Igreja de Corinto que provocou um grande escândalo cometendo “uma imoralidade sexual tão grande que nem os pagãos seriam capazes de praticar” (1Cor 5,1) depois de ser entregue a satanás para que seu corpo fosse destruído e o seu espírito, salvo (1Cor 5,4-5) – foi recebido outra vez pela mesma igreja (não por outra igreja ou denominação) e por ela perdoado e animado para que não ficasse para sempre tão triste que acabasse caindo em desespero (2 Cr 2,5-11).
Às vezes, quem promove o escândalo são os caçadores de escândalos, aqueles que levam o(a) irmão(ã) surpreendido(a) em pecado, para o meio da multidão, proclamando em manchetes de jornais, e não para um lugar reservado e recatado para orar com ele, chamá-lo(a) ao arrependimento e garantir-lhe o perdão de Deus. Só o pecado dos hipócritas é que precisa vir á tona. Em benefício do Reino de Deus, da Igreja da qual o pecador é membro, das crianças e dos adolescentes, daqueles que estão em processo de conversão, da família do pecador e do próprio pecador – se não se trata de um escândalo público -, muitos casos, não é necessário nem virtuoso divulgar o pecado alheio. Em alguns comportamentos extremos, o escândalo do irmão que peca é espalhado e muitas vezes aumentado por uma questão de maldade (inveja, ciúme, vingança). Aos olhos de Deus Misericordioso, esse escândalo é maior do que o primeiro.
Todos os cristãos deveriam confessar a potencialidade do pecado, tomar cuidado e admitir com humildade o que o filósofo alemão Goethe admitiu: “Não vejo falta cometida (por outra pessoa) que eu não pudesse ter cometido”.
Que a verdadeira Misericórdia, seja invocada sempre para transformar as realidades de pecado que visita as nossas vidas. Não uma falsa misericórdia, que se revestiu de permissividade louca dizendo: ”Deus perdoa tudo”; sem que a pessoa experimente a força do arrependimento, que leva a mudança de vida, evitando aquele pecado: “Eu também não de condeno, vá e não peques mais”.
Sejamos irmãos e irmãs, Arautos de Misericórdia, para aqueles que querem mudar de vida, deixando seus erros para trás. Quem matou não mate mais, quem roubou não roube mais. Quem mentiu, não minta mais. Paz e Misericórdia para todos (as).

 

*Frei Paulo Roberto Gomes é da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap. Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – Acre. Assistente espiritual do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular – OFS, que se reúnem todo 3º domingo do mês, na Paróquia Santa Inês, às 7 horas.

Fabiano Azevedo: