Imaginem um lugar pacato. Onde os vizinhos se cumprimentam, onde há feiras de verduras, legumes e frutas. Um ambiente em que as crianças ainda brincam de pepeta (sim, na minha infância era assim que se chamava), passeiam de bicicleta ou simplesmente andam pelo bairro.
Parece um sonho, né?! E ele existe. Mas, só enquanto a luz do sol brilha. Porque depois que a noite cai, o mesmo local fica frio, sombrio e muito, mas muito aterrorizante. A cada barulho mais estridente, por um instante tudo fica em silêncio, a sensação é que as pessoas nem respiram.
Isso também é real. Tão real, quanto os gritos dos familiares em choque ao ver seu ente querido deitado ao solo envolto a uma poça de sangue.
Depois de um tempo, uma festa comunitária que tinha tudo para acontecer em paz, de repente, chega um aviso. “É melhor acabar com isso. Ou vamos passar atirando!”. Cinco minutos depois, o espaço que antes estava lotado, ficou vazio. Para alguns, isso é toque de recolher, como se diz na gíria policial.
Independente de como se denomine, o fato é que isso acontece e tem acontecido com cada vez frequência. Talvez, não aconteça aos arredores dos condomínios de luxo, ou próximo a estabelecimentos comerciais que não ficam um minuto sem a presença de policiais e suas robustas viaturas.
No outro dia, para não dizer que ninguém fez nada, um verdadeiro comboio do sistema de segurança realizou uma blitz na entrada do local.
Mas, nos dias seguintes, o sol voltou e os moradores continuam com suas vidas, a mãe do rapaz morto, continuou a chorar, as crianças voltaram a brincar e os autores desse clima de medo continuam rondando o local de dia e de noite.
E tudo continua igual! Sempre igual!
E fica pior ao tomar conhecimento que esse não é o primeiro episódio ‘inusitado’. Já teve tiroteio no terreno da igreja. Os fiéis tiveram que se abaixar para fugir das balas. E depois? O padre terminou a missa e desejou que todos chegassem em casa com segurança.
“Parece um sonho, né?! E ele existe. Mas,
só enquanto a luz do sol brilha”
*Bruna Lopes é jornalista.
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