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O que aprendi cantando em coral

A vida me deu um prazer: cantar. Canto desde pequena, na escola, na igreja, no coral da universidade e no banheiro.
Quando minha voz se liberta, sinto que atravesso fronteiras, viajo no universo, visito dimensões. E, no aprendizado musical natural, percebo, gratificada, que meus ouvidos vão se tornando mais sensíveis no registro das notas e dos sons em geral.
Cantar em coro, então, é fonte de rico conhecimento. Que pode se projetar para a convivência social. Ao longo dos anos, tenho recolhido alguns entendimentos nessa experiência, que ora compartilho.
Então, quando o coral humano estiver desafinado, não se desespere. Não entregue os pontos ou desafine junto, porque isso é negligência. Nem acuse, porque ainda que a dissonância proceda, a crítica lhe desequilibra, ao lhe tirar do seu centro. Guarde a energia da percepção e o desejo de acertarpara algo mais efetivo.

 

“Cantar em coro é fonte de rico conhecimento que

pode se projetar para a convivência social”

 

Se você identifica a desafinação, há esperança, porque o discernimento é um ponto de luz e a consciência pode transformar o entorno. Respire fundo, firme o pensamento e busque o tom correto. Conecte-se com o ideal harmônico dentro de si e entoe com calma e segurança.
Então sua voz estará presente e ela deve ser a sua assinatura. Ouça-a atentamente, cuide que seja verdadeira, afinada, ritmada e melodiosa. E ela será, a um só tempo, valioso produto do seu zelo e sua bússola, sua partitura.
Cuide também de se conectar com outras vozes afinadas, porque assim todas se fortalecem e servem de guia para aquelas que, porventura, estejam procurando orientação e apoio para cantar eufonicamente.
Que seu talento vocal se manifeste com liberdade, generosidade e naturalidade, mas que não se exalte, não deseje ser superior aos demais, porque isso semeia inimizade, cria solidão e atrai a humilhação e o enfraquecimento.
Certamente há solos magníficos, mas é fundamental lembrar-se da incrível beleza e força que se apresenta quando todos, em suas diversidades, cantamunidos a mesma canção.
E não se esqueça de cultivar o silêncio. É ele que dá sentido à palavra, assim como as pausas dão sentido às notas.

 

Onides Bonaccorsi Queiroz é jornalista, escritora e autora do blog verbodeligacao.wordpress.com
E-mail: onides.queiroz@gmail.com

Fabiano Azevedo: