“Ela percebe que o tempo, seu inimigo desde que se entende por gente, pode se tornar um aliado”.
Levanta, escova os dentes, toma banho rápido, coloca a primeira roupa que vê abre a porta de casa e sai. Ela realmente só acorda de fato quando já está dentro do carro e no piloto automático ela freia bruscamente quando outro carro dá uma fechada nela.
São quase 10h e ela ainda não tomou café. Mas, já olhou as redes sociais, falou ao telefone com patrões e recebeu várias demandas para serem executadas ao longo do dia. Ela sente uma dor de cabeça constante e acredita ser fome. Para acabar com o sintoma ela toma um café e o pãozinho que tanto gosta.
Mais do que depressa ela se come. O corpo está ali, mas a mente está listando todos os afazeres e responsabilidades. Pouco tempo depois, ela segue o caminho. Senta na frente da tela do computador. Ela respira fundo e começa a fazer mil coisas ao mesmo tempo. Quando se dá conta já passou da hora do almoço. Metade do dia já acabou e as tarefas só se acumulam.
Nesse período ela já foi amiga, filha, psicóloga, mecânica, lista telefônica, secretária, garota de recados e detetive. Mas, nenhuma dessas funções são prazerosas para a moça de olhos tristes que tem apenas uma ambição na vida: Ser feliz!
Enquanto ela corre contra o tempo, os verdadeiros milagres, aqueles diários, como apreciar um belo entardecer ou sentir o cheiro de terra molhada no início da chuva, ela não usufrui. Se afastando do que realmente importa, num determinado momento ela se vê perdida e mais sozinha do que jamais teve.
Foi preciso um baque, um susto para ela realmente abrir os olhos e acordar para vida. Nesse momento ela percebe que o tempo, seu inimigo desde que se entende por gente, pode se tornar um aliado. Com isso, ela percebe que mudanças drásticas precisam acontecer.
Na estrada da vida, ela pisa bruscamente no freio. Identifica o que a faz mal. Passa a se desligar do trabalho e não se incomoda de dedicar alguns minutos para admirar uma rosa ou um beija-flor.
Ela aprende a respirar melhor. Dorme bem. Se alimenta com qualidade, dedica pelo menos uma hora do dia para fazer algo por ela. Outras mudanças aconteceram em consequência dessa já citadas e hoje ela percebe que viveu uma parte da vida no piloto automático.
Perdeu muita coisa, ganhou outras, porém ela não era feliz. E se perguntar para ela se hoje ela atingiu o objetivo a resposta é surpreendente. NÃO! A diferença é que agora ela tem clareza sobre o que quer e não existem amarras que a impedem de contemplar verdadeiros milagres nos pequenos momentos ao longo de um dia inteiro.
*Bruna Lopes é jornalista.
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