Vivemos em um Brasil desacreditado. Acusamos a nossa pátria de ser injusta e corrupta, mas não paramos para refletir, em momento algum, o quanto de participação nós temos nisso. A culpa sempre recai aos outros. Nunca em nós. É a corrupção deles que torna tudo errado, não a nossa. Estamos em uma fase de reta final de campanha, e só o que persistimos em afirmar é que o país não tem mais jeito. Que a esperança de uma nação melhor no futuro já morreu.
Não é verdade.
Não é o nosso país que está pra baixo. Somos nós. Nossa cabeça é que é cíclica em prosperar a ideia de que o Brasil não tem mais jeito. Nós nos atiramos em queda livre dentro do poço da desconfiança popular em relação a nossa política, ao nosso ordenamento jurídico e à atuação das nossas instituições. E sem os equipamentos certos para sair dessa fossa.
Viramos o povo dos desconfiados. Estamos armados o tempo inteiro contra o próximo catrepe, o próximo esquema, o próximo golpe ou rasteira que vão nos dar. Propagandas políticas antes eram encaradas quase que como clausulas de compromissos dos candidatos. As pessoas até se debruçavam, de fato, na reflexão delas e no que poderiam mudar em suas vidas. Hoje, aos olhos da maioria, não passam de meras promessas, boladas para afirmar-se o que se quer ouvir com o consequente objetivo da conquista do voto.
Período eleitoral se tornou cada vez mais curto, e mais chato. Praticamente um sinônimo de insuportável.
Candidatos ainda perdem seu precioso tempo no horário da propaganda eleitoral gratuita em rádios em TVs com autoafirmações do tipo “você me conhece”, “sou honesto e trabalhador”, “sou de família”, “ em mim você pode confiar”. Ledo engano. Inúmeros são os motivos que levam uma pessoa a votar em alguém (interesses, ódio ao adversário, ideologia, partidarismo, parentescos, amizade). Confiança, nestes tempos, com certeza é um dos últimos requisitos.
Período eleitoral se tornou cada vez mais curto, e mais chato. Praticamente um sinônimo de “insuportável”. Isso porque entramos nele, pelo menos a grande parte de nós, já saturados.
Fato é que passamos por este período mais do que de forma obrigatória do que por vontade. Mas voto é obrigatório. Sim, é. Apesar de não ser uma clausula pétrea, é de entendimento constitucional que votar é uma obrigatoriedade do cidadão. De um lado, isso é bom porque faz as pessoas não desistirem de vez de participar diretamente da eleição dos agentes políticos que vão representá-las legislativamente e dos que vão administrar a tão cobiçada e atacada máquina pública. Por outro lado, tira a espontaneidade e voluntariedade dessa participação.
Qual a conclusão que se tira de tudo isso? Que debate-se demais. Discute-se demais. Acusa-se demais. E decisão que é bom, pouco se toma. O voto é uma decisão. Tem poder para tanto. Mas é uma minoria que o exerce com consciência e convicções quanto à sua responsabilidade cidadã. Poucos são aqueles que votam pelas razões certas, e depois seguem acompanhando as consequências pelos números que digitaram nas urnas eletrônicas. Enquanto essa for nossa realidade, nem adianta se falar no “Brasil que queremos”, e sim no “Brasil que merecemos”.
* Tiago Martinello é jornalista.
E-mail: [email protected]