Lugares contam histórias. Conforme os anos vão passando a gente percebe a cidade desenhando em folhas grossas o presente, que logo se torna passado. Então, aquela velha frase “no meu tempo” ou “isso aqui era tudo mato” vai fazendo parte do nosso vocabulário.
Despretensiosamente, hoje, estando mais próxima dos 30 do que dos 20 anos, eu me pego pensando em lugares que já existiram em Rio Branco e agora não mais.
Quando meus pais falavam do cinema que funcionava na atual loja O Formigão, eu achava aquilo tão distante, como um conto saído de livros de história. Eles me contavam nostálgicos as aventuras juvenis, as brincadeiras e festas famosas em seus tempos.
Hoje, já posso enumerar alguns lugares importantes na minha vida que não existem mais e que meus filhos jamais terão a oportunidade de conhecer.
Quem, na casa dos 20 anos para cima, não tem história no Cine João Paulo não sabe o que perdeu. Foi, por muito tempo, o único cinema da cidade e contava com limitadas opções de filmes e sessões, mas a gente amava. De lá, a turma seguia junto à Sorveteria Pinguim, que funcionava numa casinha de madeira, para se deliciar em sabores gelados e comentar o longa-metragem. Isso era vida!
Um local que fez parte da minha infância sem eu nunca ter posto os pés lá foi o balneário Top Quinze. Era o meu sonho passar um domingo com os primos e amigos ali, mas nunca tive a oportunidade real de conhecer.
Todas as vezes que eu visitava meus avós no sítio, não perdia a chance de ir ao “banho Santa Maria”, que ficava na Rodovia AC 40, km 11, em Rio Branco. Lembro das risadas, da água gelada e do chão barroso. Hoje, infelizmente, quem passa por lá se depara com águas poluídas.
Sinto saudades das tardes em que eu saía da escola e ia alugar filmes na minha locadora de vídeos predileta. Havia dezenas espalhadas pela cidade. Ali, eu me esquecia do tempo, dos compromissos, esquecia do mundo real e entrava de cabeça em cada sinopse que lia. Era delicioso.
Na época de Natal, minha mãe se arrumava e vinha até meu quarto chamar: “Vou descer para fazer compras. Quer vir?”. O termo descer, para quem não sabe, é sinônimo de ir ao Centro. Não sei a origem disso, mas até hoje minha mãe se refere à região central da cidade assim.
Muitas lojas marcaram minha infância e adolescência. Uma delas, fechada recentemente, foi a Discardoso. Era, sem dúvidas, um lugar bom para entrar, ouvir músicas e escolher o CD da banda preferida.
Hoje, esses lugares são meras lembranças. E não há como não pensar que muitas das coisas que estão aí agora podem deixar de existir amanhã. E assim, Rio Branco vai desenhando sua história, alimentando lembranças por todos os lados.
Brenna Amâncio é jornalista.
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