“Os problemas cíclicos, como a imprudência ambiental, a corrupção, as desigualdades sociais é que são os verdadeiros alicerces das nossas crises”
Há pouco mais de três anos, era começo de novembro, quando os nossos noticiários foram tomados por imagens impactantes de uma espécie de “tsunami de lama”. Uma lamacenta enxurrada de destruição que recaiu sobre o subdistrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana, interior de Minas Gerais, após o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco. Tratava-se do pior “acidente” da mineração brasileira.
Três anos se passaram desde então, e o que aprendemos com essa tragédia ambiental: NADA.
Isso fica bem claro a partir deste novo episódio de proporções tão aterradoras quanto o caso de Mariana que aconteceu agora, em Brumadinho/MG. De novo, atividades de mineração de outra empresa ligada à Vale causaram o rompimento da Barragem 1 da Mina Feijão. Resultado disso são as tristes imagens que não saem da mídia, pelo menos nove pessoas mortas, centenas de feridos e desaparecidos, além dos impactos ao meio ambiente incalculáveis.
Quem vai pagar a conta disso tudo?
O Direito Ambiental consagra princípios norteadores como o da precaução e da prevenção. Só que a grande verdade é que eles não passam de doutrinas utópicas em livros de direito. Não conseguem passar dos limites do papel para atingir com suas penalidades a proporção real que determinadas catástrofes provocam. Configura-se, assim, a sensação da impunidade.
O Brasil quer dizer que superou os alertas dos ambientalistas, dos “ecochatos”, e se atirar, sem paraquedas, em grandes projetos desenvolvimentistas. Quer fazer o mundo crer que pagamos com o atraso econômico por preservar nossa natureza, enquanto outras nações se tornam potências cada vez maiores. Como se nossa crise e estagnação econômica fosse culpa disso. Não conseguimos aprender nem com nossos erros mais primários.
Os problemas cíclicos, como a imprudência ambiental, a corrupção, as desigualdades sociais, abafados pela politicagem barata que se aproveita disso tudo por vitórias eleitorais é que são os reais alicerces das nossas crises. Enquanto não superarmos esse cenário, continuaremos a ser um país atolado em todo tipo sujo de lama.