“Nem só de batalhas vive o homem, e sábio é aquele que sabe aproveitar bem os tempos de paz”
Lembrar da infância certamente é o ápice da nostalgia. Pode prestar atenção: na maioria de roda de conversas de amigos de longa data sem dúvidas os pontos altos se concentrarão nas lembranças das traquinagens sobre os tempos de molecagens do bairro, das brincadeiras favoritas e ‘artes’ que aprontávamos com nossos pais, das surras que geralmente os procediam e dos desenhos/ programas televisivos prediletos de uma época em que ter TV em casa era o máximo.
Afinal, quem não tem uma memória feliz de quando era criança? Um abraço, um carinho, uma proeza heroica ou uma música antiga. Algo especial, guardado a sete chaves na memória. Um momento único ao qual, se pudéssemos, voltaríamos para ele sempre que possível para senti-lo em na plenitude de nosso ser novamente?
Não se culpe por sentir essas sensações sobre a chamada ‘aurora da sua vida’. Nem pense que a sua vida hoje não é tão boa quanto já foi um dia. A infância bem aproveitada provoca isso em todo mundo. Até o mais realizado dos homens no presente vai um dia sentir o peso e a doce amargura das recordações, seguido pela impotência de não poder voltar no tempo.
Meus tempos de meninice não foram muito diferentes de muitos outros. Teve tudo ao que tive direito, e muito mais. E são eles que me fazem escrever este texto e ponderar sobre o que torna este abismo tão grande entre a infância e a vida adulta. Tudo mundo, ao fazer essa comparação, vai chegar à sua própria conclusão. A minha foi a seguinte: os problemas e as complicações.
Ser adulto não é chato. Nós é que tornamos insuportável, algumas vezes. Enquanto crianças, vivemos. Só vivemos, e pronto. Tiramos o melhor disso. Não há fortes apegos materiais, nem preocupações com o futuro ou com aparências. Não temos nada a perder, e nem temos medo ou orgulho ferido em ouvir um sonoro NÃO. A vida é como é, e não mudamos isso.
Portanto, não complique demais as coisas. Pensar, planejar, se autoavaliar refletir sobre a vida é bom. Produtivo. Mas focar o pensamento só nas complicações é errado. É exatamente isso que nos separa do estado feliz de ser criança. Ser responsáveis é diferente de achar que tudo tem que ser um problema, um obstáculo, uma dificuldade ou um drama em potencial.
A vida é mais simples, quando temos a tranquilidade de redescobrir a criança em nós mesmos. Ache a dose para agregar essa simplicidade na sua forma de conduzir seus problemas, de lidar com situações difíceis ou de resolver infortúnios. E, assim, certamente o seu estado de espírito será mais receptivo para abraçar as alegrias que o destino lhe reserva.
* Tiago Martinello é jornalista.
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