Grande Américo! Era assim que os amigos mais próximos chamavam meu pai, o fotógrafo Américo de Mello. Impossível não me emocionar ao falar do profissional, pai, amigo, companheiro e pessoa incrível que ele foi. Impossível conter as lágrimas ao me lembrar da sua alegria de viver.
Sempre tive meu pai como um herói, um amigo, o primeiro amor da minha vida. Ele sempre cuidou de mim com tanto zelo que eu não consigo mensurar o quanto me sentia protegida ao seu lado.
Os últimos anos não foram fáceis. A idade avançada e os problemas de saúde debilitaram meu pai dia após dia. Em 2018, especialmente, costumo dizer que foi o ano de maior aprendizado. Todos os dias eu aprendi um pouco mais sobre o amor incondicional.
E foi no ano passado que os papéis se inverteram e eu, que sempre fui cuidada, passei a dedicar todas as horas do meu dia ao bem-estar do meu paizinho. Algumas noites em claro, muitas crises de ansiedade, de choro, e até existencial. Isso mesmo. Qual era o propósito disso tudo na minha vida?
“De todas as lembranças, sua alegria de viver é a que mais me faz seguir em frente”
O medo de perder o amor da minha vida tirava meu sono quase todas as noites. Porém, por outro lado, sempre pensava: meu pai é o homem mais forte que conheço. Não vai nos deixar tão cedo. E foi aí que eu errei. Afinal, os planos de Deus são desconhecidos e muito maiores.
E então, meu pai partiu. 28 de dezembro nunca mais será o mesmo depois dessa perda. Meus dias andam vazios, como se nada pudesse preencher aquele espaço no peito. A sensação é de que falta algo, nesse caso, falta alguém. Mesmo sorrindo, tudo dói. É a saudade machucando por dentro.
Apesar dos dias que é quase insuportável me manter em pé, a certeza de que meu pai está bem e feliz, como há tempos não era, me conforta. Ele sempre me dizia que viver em uma cama não era vida, e não era mesmo. Ainda mais para o seu Mello que sempre foi tão ativo e independente.
Papai partiu brincando e com uma paz inenarrável. Foi confortante e doloroso ao mesmo tempo. Assim como tem sido meus dias de luto, doídos de saudade e tranquilos por saber que foi feita a vontade de Deus e de papai. De todas as lembranças, sua alegria de viver é a que mais me faz seguir em frente.
Bruna Mello é jornalista.
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