X

UM CIDADÃO NOTÁVEL

Todas as manhãs, quando passo naquela calçada a caminho do trabalho, ali o avisto. Faça chuva ou faça sol, está a postos, touca na cabeça, concentrado no preparo de seus lanches.

A clientela cativa, em volta, está confortavelmente acomodada nas cadeiras debaixo da grande árvore. Muitos conversam enquanto esperam os pedidos saírem.

Banca de café na rua: forte tradiçãodo Nordeste do Brasil, expandida para outras localidades, sobretudo onde houve ou há migração do povo daquela região, como aqui no Norte. Na esquina do prédio da minha irmã, em São Paulo, também há uma dessas. O que caracteriza uma legítima e espontânea franquia cultural.

Então a genteconstata a notável capacidade empreendedora do brasileiro batalhador, que se vira, vai à luta, sai à rua e defende o pão dos seus. Às vezes prospera:o senhorzinho que encontro no meu percurso matinal já emprega duas ajudantes!

 “Banca de café na rua: uma legítima e espontânea franquia cultural brasileira

Nesse micronegócio pode existir a excelência também, como em tudo o que se faz com capricho: o cheiro dos lanches que saem de sua banca é tão delicioso e a aparência tão sedutora que eu, que prefiro o desjejum em casa, preciso me esforçar para fugir à tentação de tomar o café da manhã pela segunda vez! Mas confesso queeventualmente não resisto ao pão quentinho com manteiga, à tapioca, ao café com leite, enfim, lanches simples e saborosos que muito alegram o paladar.

Não bastasse, quando eujulgava que já tinha observado todas as qualidades daquele empresário, eis que ele ainda conseguiu me surpreender e dar mostra da espécie de cidadão que é.

Foi quando, certo dia, eu saía para almoçar e já estava desmontada a sua estrutura de trabalho. Tudo organizado, num canto, pronto para ser transportado. Ele? Varria o chão. Para deixar aquele cantinho da cidadelimpo do jeito que encontrou, disse.

Onides Bonaccorsi Queiroz é jornalista, escritora e autora do blog verbodeligacao.wordpress.com
E-mail: onides.queiroz@gmail.com

Fabiano Azevedo: