Na contramão da razão o homem permeia o seu habitat natural com o mal moral que é o que traz maior desgraça a existência humana. O mal moral é a minha impiedade contra o meu próximo. O assassinato bárbaro e macabro do menino Rhuan é o exemplo mais real desse status de crueldade maligna que domina o mundo de hoje. Por causa dessa crueldade desumana, a relação entre os homens está seriamente comprometida; a convivência nos centros urbanos, principalmente, tornou-se um caos, uma desordem social que tende a se agravar; não temos princípios, nossos valores são decadentes, “aniquila-se o homem e a mulher, destrói-se o idoso e a criança.”
As estatísticas estão aí para comprovar, infelizmente, o que afirmo. Aí estão as guerras convencionais entre as nações, bem como as guerras particulares entre os indivíduos. Os homens podem e devem fazer o bem; ouvir a voz da razão, mas preferem fazer o mal.
A proposito dessa condição deplorável, pode-se afirmar, sem pessimismo doentio, que que as hostes malignas são como a imensidão dos oceanos, enquanto que a influência do bem se assemelha a simples gotas de bondade, diluidas ou perdidas nesse mar de maldades.
A maioria dos que se dedicam a pensar e olhar os problemas que afligem o homem (técnicos, analistas, historiadores, cientistas, filósofos, sociólogos, teólogos e estadistas) concorda que o homem está doente. Principalmente, porque em meio a essa catástrofe mundial de maldades, a raça humana prioriza e estabelece o prazer como o objeto principal da vida. Essa configuração de encarar a vida é fortemente influenciada, hoje, pela mídia pornográfica, indutora de maus costumes; dessa forma só fala em “ficar” “parada”, curtição em embalos alucinógenos e tudo mais o que enche a mente de milhares e milhares de homens e mulheres, seja jovem ou adulto. Esse apego, exagerado, aos prazeres objetivos, fere e descaracteriza a própria estética; pois a satisfação só é estética quando gratuita e desligada de qualquer interesse; não se ufana e não prevalece sobre o interior ético responsável, cumpridor de suas obrigações de cidadãos. Nada de usar a razão ou a lógica do dever, já que maioria está mesmo é para curtir “os desejos da carne.” Deste modo, todos ou quase todos, estamos enquadrados na assertiva de Santo Agostinho: “Certamente, estamos na mesma categoria das bestas; toda ação da vida animal diz respeito a procurar o prazer e evitar a dor.” Dizia o Bispo!
Tendo em vista essa situação trágica e, aparentemente, insolúvel faço aquela velha e manjada pergunta: Estaremos desenganados? Não nos resta mais esperança?
Entendo que, neste mar de maldades ou “poço de maldade”, gotas de bondade surgem como bálsamo para um mundo doentio. Gotas de bondade de que o homem, cada vez mais escravo e encantado com o fascínio das tecnologias de “ponta”, volte a refletir: sobre a sua condição humana; sobre o sentido da vida e; reaprenda a usufruir do conforto de enriquecer os conhecimentos, desenvolver a sensibilidade estética, cultivar amizades e ser feliz. Afinal, alguém tem dito, com razão, que o dilema do homem moderno é que, ao que parece, ele não mais saber quem é, ou em que consiste o significado de sua vida. Esqueceu as suas aspirações, esperanças, sonhos e outras quimeras. Esqueceu que o ser humano em sua dimensão de pluralidade é um ser-com-os-outros e para-os-outros, a isto chamamos de convivência social. O homem atual deixou, em sua maioria, de ser consciente de si e dos outros. Não tem capacidade de reflexão e de reconhecer a existência do próximo como sujeito ético igual a ele.