Com a morte, nesta sexta feira (14.06.2019) do jornalista Clóvis Rossi, um decano do jornalismo nacional, parece, diria Oto Lara Resende, que de repente, tendo eu fechado os olhos, dormitado, em seguida aberto os ditos olhos, tiraram o cenário, mudaram a peça. É o tempo da nossa lida terreal. Fazer o que?
Assim, à medida que o tempo passa, o jornalismo e a mídia em geral, com raríssimas exceções, vai se limitando aos animadores de palcos, “comunicadores” que vivem amealhando riquezas em cima da boa fé do hoje tão “esclarecido” telespectador, para serem protagonistas domingo após domingo dessa cretinice denominada “Domingão do Faustão”, entre outros programas idiotas!
Os motivos, que nos trouxe até aqui, bem sei, sabem todos: A mídia, por razões mercadológicas, econômicas, não pode estar defasada em relação ao seu público. Peritos, sobre o tema, alertam que o que caracteriza esta explosão da comunicação é a emergência de um mercado, no seu sentido mais concreto: As pessoas compram seu jornal pagam a prestação do seu aparelho de TV, sua assinatura da TV a cabo, etc. Os anunciantes pagam uma fortuna por espaços de publicidade para tornar conhecidos os seus produtos. E isto tem conseqüências sérias. A televisão, sobretudo, o diktat (comando, ordem ou instrução) da audiência e do mercado de espaço publicitário, reforça todas as tendências mercenárias da mídia em evidência.
Com proposital saudosismo, para reflexão de todos que direta ou indiretamente militam na imprensa, cito uma carta dos jornalistas que foi adotada em 1918 pelo sindicato dos jornalistas na França, tendo sido revista e completada em 1938 pelo mesmo sindicato. Hoje, não sei, mas até uns poucos anos atrás, os demais sindicatos a reivindicavam, como alias, implicitamente todos os jornalistas franceses:
“Todo jornalista digno deste nome assume a responsabilidade por aquilo que escreve mesmo quando se trata de um escrito anônimo; tem como gravíssimas faltas profissionais a calúnia, as acusações sem provas, a alteração dos documentos, a deformação dos fatos, a mentira; não reconhece a jurisdição de seus iguais, soberana em assunto de honra profissional; não aceita senão missões compatíveis com a dignidade profissional; jamais se permite invocar um título ou uma qualidade imaginária, usar meios desleais para conseguir uma informação ou aproveitar-se da boa fé de alguém; não toca sequer em dinheiro num serviço público ou numa empresa privada em que sua qualidade de jornalista, suas influências, suas relações serão suscetíveis de ser exploradas; não opõe jamais seu nome a artigos de propaganda comercial ou financeira; não comete plágio algum, citando sempre os colegas dos quais reproduz qualquer texto; não pede jamais o lugar de um colega, nem provoca a sua demissão, oferecendo-se para trabalhar no seu lugar em condições inferiores; guarda o segredo profissional; não usa da liberdade de imprensa com uma intenção interesseira; reivindica a liberdade de publicar honestamente suas informações, observa o escrúpulo e a preocupação com a justiça naquilo que respeita às regras elementares, não confunde seu papel com o do policial”
Esta carta lida à luz do “jornalismo moderno” soa como, ingênua, anacrônica e, quem sabe, até ridícula. Mas pode ser um aguçar mental, para todos aqueles que trazem no sangue a suprema vocação de bem informar; um alívio, tanto para jornalistas genuínos, caso específico de Clóvis Rossi, como para outros comunicadores que pretendem serem defensores estrênuos do bom jornalismo; livres e compromissados com a verdade, pois, que se dirigem a cidadãos livres e responsáveis.