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Problemas psiquiátricos e na coluna lombar são as doenças que mais afastam trabalhadores no Acre

As doenças associadas ao trabalho obrigam profissionais a se afastarem dos cargos e causam a redução da produtividade em diversos setores econômicos no Brasil.

Um cálculo feito pelo Observatório de Saúde Segurança do Trabalho do Ministério Público do Trabalho (MPT), em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mostra que só nos últimos seis anos mais de 319 milhões de dias de trabalho produtivo foram perdidos devido a afastamentos.

Entre 2012 e 2017, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) gastou R$ 26 bilhões em benefícios acidentários. Foram mais de 520 mil trabalhadores afastados, sendo a maior incidência entre os homens.

No Acre, os problemas na coluna lombar e distúrbios psiquiátricos são as doenças ocupacionais que mais afastam trabalhadores, segundo o médico especialista em Medicina do trabalho, Idelbrando da Rocha Menezes Júnior.

Já com relação a acidentes de trabalho e no trabalho a incidência é pequena. “Com relação a acidentes, apesar de não ter uma boa medicina do trabalho no sentido de prevenção, não são muitos casos. Tem muito acidente de trajeto, que é o de trânsito, quando a pessoa vai do trabalho para casa e vice-versa”, explica.

O médico afirma que as doenças ocupacionais podem ser evitadas com a implantação de ações preventivas e educativas no trabalho. Palestras, acompanhamento psicológico e psiquiátrico e até com 15 minutos de ginástica laboral antes de iniciar o expediente podem evitar, por exemplo, um problema na coluna.

A ginástica laboral é uma das atividades com mais resistência por parte dos trabalhadores e dos empregadores.

“Às vezes é um pouco difícil a adesão, mas é eficaz. É uma coisa de escada mesmo. As pessoas vão vendo e vão gostando. É um trabalho de conscientização difícil porque já tem a resistência do próprio trabalhador e, muitas vezes, a empresa não quer”.

Idelbrando relata que as doenças psiquiátricas afetam principalmente trabalhadores da área de saúde, bancários, policiais e professores.

São doenças que poderiam ser facilmente evitadas com a implantação de um Serviço Especializado em Medicina do Trabalho por parte das empresas. Vale lembrar que empresas com mais de 500 funcionários são obrigadas a possuir um médico do trabalho.

“Tem muitas empresas que não têm médico do trabalho, não se preocupam com a prevenção de doenças e de acidente com os seus empregados em geral. O primordial é a prevenção. Infelizmente, hoje não temos essa prevenção”.

Outro problema que contribui para os índices de afastamentos é a falta de fiscalização por parte do Ministério do Trabalho (MT). No Acre, os agentes fiscalizadores, em sua maioria, trabalham por meio de denúncias, segundo o especialista.

“Fiscalização tem, mas é bem precário pelo que posso ver. A não ser que tenha uma denúncia, eles agem muito por denúncia, sendo que devia ser um trabalho diário. Mas não sei dizer se é por falta de efetivo”.

Idelbrando da Rocha Menezes Júnior.

Custo benefício

Se for colocar na ponta do lápis, o custo benefício de investir em prevenção é muito inferior ao de processos trabalhistas. Ganha o funcionário que não terá problemas de saúde e ganha a empresa, que irá economizar com gastos. É o que explica o médico.

“Individualmente, uma adaptação boa para uma mesa, por exemplo, não sai por mais de R$ 6 mil. E as multas, quando vêm, é R$ 100 mil, R$ 200 mil. Se o empregador tivesse uma visão boa com relação à Medicina do trabalho, ele seria menos penalizado”, exemplifica.

Trabalho em excesso

A maioria das pessoas já sabe que trabalhar excessivamente pode trazer diversos problemas de saúde. Recentemente, uma pesquisa publicada na revista Stroke indica que trabalhar demais aumenta o risco de acidente vascular cerebral (AVC).

Conforme o estudo, as pessoas que trabalham mais de 10 horas diárias por 50 dias durante o ano estão 29% mais propensas a sofrer um AVC. O risco é ainda maior para quem mantém essa rotina ao longo de dez anos.

A teoria é confirmada pelo médico do trabalho, que acrescenta que o trabalho em excesso afeta, sobretudo, o psicológico dos trabalhadores.

“Afetando o psicológico, afeta o físico, a disposição. O trabalho em turnos, não flexibilidade dos horários, a cobrança de tarefas, a rotina de trabalho, o ambiente de trabalho, tudo isso influencia para que seja maior ou menor o dano”.

E exemplifica: “Os atendentes de telemarketing sofrem muito. Eles têm um número determinado de chamadas para atender por minuto. Por exemplo, de dez chamadas para cancelamento de assinatura eles só podem aceitar duas, as outras oito eles precisam convencer a não cancelar. Você fazer isso em um dia tudo bem, mas 25 dias por mês é difícil”.

A recomendação do especialista tanto em casos de acidente do trabalho como em casos que o funcionário se sinta sobrecarregado é: conversar com o chefe imediato.

“A gente sabe que a questão do trabalho é difícil. As pessoas têm medo, se inibem. O primeiro é conversar com o chefe imediato. Se não der certo, conversa com o sindicato e, se não tiver sindicato, a recomendação é procurar o Ministério do Trabalho”.

 

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