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O soldado poeta da Revolução Acreana

Qualquer tentativa ou esforço biográfico que se faça para descrever a trajetória de João Barreto de Menezes que não o qualifique já nas primeiras linhas como um personagem extremamente polêmico, por certo, não estará sendo fiel à história de vida do biografado. João Barreto era muito polêmico. Um polemista talentoso, intrépido, irreverente e muito inteligente.

O João era filho do escritor Tobias Barreto. Mas não precisava de carteirada genealógica.Tinha luz própria!

Já foi descrito por gente grande da literatura brasileira. Foram muitos! E quem melhor o fez foi o escritor Luis da Câmara Cascudo, um velho amigo, dele e do pai. Colega da Faculdade de Direito.

João Barreto era Imortal da Academia Pernambucana de Letras. Um modernista! Sempre foi matéria em ebulição no meio político e social. Sua tradição de luta lhe rendeu o codinome de “Leão do Norte”.

Jurista, poeta, jornalista, orador estridente e arrebatador de multidões,  João Barreto foi uma das maiores culturas filosóficas do seu tempo e marcou toda uma geração, segundo dizem os críticos. E não se trata de qualquer crítico. Dele falavam os melhores. Era um metro e setenta de ebulição, ardência e inquietação ambulatorial, conforme dizeres de Câmara Cascudo.

Dono de uma oratória de deixar Cícero de queixo caído, falava andando, girando, com paradas bruscas entre os períodos, momento em que se tivesse uma mesa ao alcance, esmurrava com todas as suas forças. Quando não, a vítima era o vento ou a palma da mão vizinha. Falava combinando contundência irada com  suavidade!. Decisão e tempestividade! Sabia modular o tom recorrendo a apelos retóricos mais suaves quando o tema assim exigia. Era definido como um orador popular. Se o espírito polemista era a sua sombra, o dom da oratória respondia pela sua alma.

João Barreto era um fogo corredor a incendiar ideias por onde passava. E estava em todas. Tocou fogo no mundo. Não carregava consigo o vício do recuo e se tinha medo de algo, esse algo era não lutar pelo que acreditava.

Em 1889, ainda no império, com a morte do pai (Tobias Barreto) talvez para fermentar o espírito inquieto – iludido por este – e também movido pela necessidade financeira, ainda muito jovem, ingressou no exército.

Em setembro de 1892 é visto de fuzil na mão ao lado de Floriano Peixoto e em 1897 foi parar no Arraial de Canudos. Mas não era um soldado padrão. Agia como uma espécie de Assessor de Comunicação do conflito. Figurava como um intelectual perdido em meio à barbaridade da revolta, que tingiu de sangue a terra árida do Sertão Baiano, naquele que, ao lado da Guerra do Paraguai, foi um dos episódios mais tristes da nossa história.

Três anos depois, já fora das fileiras do exército, talvez para apagar a mácula de Canudos, horror que nem nos seus piores pesadelos imaginou que chegaria a tanto, veio para o Amazonas e juntamente com o também jornalista Orlando Lopes, optou por preencher com traços poéticos os primeiros ensaios da Revolução Acreana.

João Barreto ajudou a fermentar a chamada Expedição dos Poetas, iniciativa que visava devolver Luis Galvez ao poder. O  levante fracassou. O ex-soldado, juntamente com os outros, dispersou tão logo ouviu os primeiros tiros dos canhões dos patrícios.

Voltou a Manaus e daí em diante passou a ser um dos cérebros da Revolução Acreana. Seu papel, ao lado de Orlando Lopes e outros, era a usar a pena para escrever e telegrafar as notícias da insurreição para os jornais do Brasil e do mundo.

Dizem alguns, por maldade ou reconhecimento, que boa parte das falas heróicas, supostamente atribuídas a Plácido de Castro, carregavam consigo as digitais do grande João Barreto de Menezes. O soldado das letras da Epopéia Acreana!

Tem mais! Muito mais! Deixo aqui apenas uma amostra grátis do personagem. Eu volto!

 

(*) Edinei Muniz é professor e advogado.

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