Francisco Assis dos Santos*
Hoje, volto o meu olhar “estrábico” para as nossas cidades com seu brilho e suas luzes, seus exuberantes arranha-céus e imponentes avenidas, suas movimentadas noites e seus grandes negócios, onde se vale pelo que se tem e se vende o que melhor simboliza o mundo caos em que vivemos. As cidades são o espelho que melhor refletem a miséria e os contrastes do sofisticado mundo moderno. É nas ruas que mendigos, em humilhação assassina, estendem suas mãos aos transeuntes apressados e ocupados. É nas suas esquinas que as “prostitutas” ainda crianças, se expõem, em busca de freguesia, para que no dia seguinte o seu pão de cada dia possa comer.
As cidades refletem, sobremodo, de forma aguda a situação socioeconômica que caracteriza tão fortemente o nosso século. Não apenas por causa das visíveis e gritantes contradições entre cidades que revelam a sofisticação e os parâmetros de Primeiro Mundo com seus abundantes recursos e exacerbado custo de vida, em contraste com a maioria das nossas cidades de qualidade de vida própria de países do Terceiro Mundo, que não conseguem esconder os seus pobres, porque são muitos ou quase todos, e a dor e a fome que os impelem para as ruas no desesperado desejo de saciá-la.
No Brasil, cidades pequenas e grandes, se tornaram palco dessa mazela humana, tão presente no nosso cotidiano. Cito como exemplo, Angra dos Reis/RJ, não a Costa Verde da baía do Reis com seus condomínios luxuosos e seus “resorts” exuberantes. Não! Estou falando da cidade, propriamente dita, de Angra dos Reis com seus 170 mil habitantes, dos quais mais de 40% constituídos de FAVELADOS. Dá para acreditar? Aliás, dia desses, a violência em Angra dos Reis, fez com que vários serviços públicos e privados fossem interrompidos por causa dos tiroteios, assaltos e homicídios.
A impressão que temos, infelizmente, é que estamos caminhando para o caos social. É uma ilação pessimista? É! Entretanto, não podemos negar um fato, notório e público: as ruas de nossas cidades se transformaram em selvas de terrorismo, assaltos, estupros e morte. Parece, que nesta contradição, o humano deu lugar ao desumano. Pois, basta uma simples olhada na convivência entre as pessoas, a partir do mais simples município, para se constatar esta realidade. Nesse caso, não é pessimismo. É realidade, crua e nua!
Então, não há mais nada de salutar nas nossas cidades?
Existe, sim! Porquanto, em meio a essa situação caótica, podemos notar na essência das nossas cidades aquele espírito humano que anima uma coletividade e instituições. Há, além disso, resquícios daquilo que é característico e predominante nas atitudes e sentimentos dos indivíduos, de um povo, de uma cidade, grupo ou comunidade, e que marca suas realizações ou manifestações culturais: relações de amizade, independente da escolha cultural de cada um; respeito ao princípio de igualdade de direitos e autonomia de cada indivíduo; seu modo de ser ou de vida habitual; seu temperamento e disposição interior de fazer o bem, de natureza emocional ou moral, enfim!
Portanto, apesar das nossas mazelas, há esperança para as nossas cidades!
HUMANISTA. E-mail:assisprof@yahoo.com.br