Claro que tenho o “meu lado intolerante”. No meu caso, a minha intolerância é quase fascista. Ando meio irritado e deveras contrariado com os acontecimentos que fogem a minha idéia de mundo civilizado. Afinal, uma das características do fascista é não admitir a contrariedade, oposição no seu modo de “pensar” e ver as coisas, notadamente os fascistas que estão no poder instituído!
Por falar em políticos, as decisões políticas dos mandatários das grandes nações são recheadas de intolerância. Em diversos países republicanos, há governantes que não admitem que suas decisões sejam contrariadas. Este é um tipo de fascismo mitigado, mas não deixa de ser fascismo. Alias, de todas as definições de fascismo, fico antes de qualquer outra com aquela que diz que fascismo é um sistema político antidemocrático.
Não fujo à regra. Eis-me aqui, metido até a goela entre as criaturas humanas carentes de diálogos. Mas, não estou só, pois essa é a tônica mundial dos dias atuais. A intolerância está esparramada em todos os segmentos sociais. A gente já não se suporta mais.
Há, nos meios acadêmicos, uma forte argumentação que a tolerância surge e faz parte essencial das religiões, da religião católica inclusive, e que quando a tolerância não existe, as crenças religiosas são pervertidas pela intolerância.
Essa intolerância religiosa, da presente hora, ou de forma contemporizada, seja em nome do Islã ou do cristianismo, vai além do zelo excessivo pela crença, mostra-se irracional, caracteriza-se pela ausência de autocrítica, é arrogante e estribado numa mentalidade imatura.
A história das religiões está repleta de casos de intransigência, que são uma desgraça para a humanidade. Desde a INQUISIÇÃO, passando pelas guerras religiosas da Europa do século XVII e dos tempos modernos, com os maus exemplos dados pelo Irã e seus xiiitas e pela Irlanda, com seus intolerantes protestantes e católicos romanos, fica demonstrado que esse extremismo religioso nunca descansa. Por que não descansa? Porque, pelo prisma do entendimento de vários pesquisadores, não existem respostas fácil ao desafio do fanatismo religioso e da violência religiosa. Sobretudo, porque as suas motivações são de fins políticos.
No Brasil, que se arroga possuir 123 milhões de católicos e, agora, conta com uma população de 42, 3 milhões de “fiéis” evangélicos, a intolerância permeia os quadrantes da nação. Existem casos de intolerância, nos meios cristãos, de posturas fanáticas, ou mesmo discurso ético religioso reacionário. Reacionário porque tenta mostrar um estado de exaltação de quem se diz possuído por Deus e, portanto, imune do erro.
Talvez, à luz do plausível, essa intolerância entre “evangélicos” ainda perdura no País, porque continuamos pensando como massa manobrada e iludida. Pensamos por atacado, como uma multidão, e as multidões podem sentir, mas não podem pensar. Exemplo crasso do que afirmo é essa multidão que, diariamente, permeia os “templos” e galpões, depositando aos pés dos “líderes religiosos carismáticos” suas esperanças de solução para suas agruras terrenas.
Como sair desse estado totalmente insuportável de intolerância? Como os homens podem sair desse círculo intransigente de luta, inimizade, ódio e suspeita? Seria demasiado tarde, para a humanidade, refletir sobre sua miséria, usando a razão para construir um Estado, corpo artificial destinado a garantir o bem-estar e a segurança de todos? Uma sociedade mais tolerante!
* Francisco Assis dos Santos é humanista. E-mail: [email protected]