O Calçadão da Gameleira, que já foi um dos espaços mais frequentados de Rio Branco, hoje sofre com o abandono, falta de investimentos e insegurança. O local é evitado por muitos moradores devido aos constantes assaltos e à presença de dependentes químicos. É o que conta a comerciante autônoma Maria Raimunda Rodrigues de Sousa, 42 anos.
“Por conta dos roubos, do total abandono, os dependentes químicos são quem mandam aqui. E se você for reclamar e levar adiante, às vezes, você ainda é ameaçado de morte. Te roubam e tu tem que ficar calada. Se você procura ajuda, ninguém resolve nada. Então fica o dito pelo não dito”, lamenta.
Maria Raimunda administra um bar há 10 anos no Calçadão da Gameleira. Como ela, alguns outros autônomos tentam manter seus estabelecimentos. Mas apenas uma breve visita no meio da semana ao local é capaz de confirmar o estado de abandono. A falta de movimento e o medo de assaltos têm levado muitos a deixarem o espaço.
“Quando eu cheguei aqui há 10 anos, de quinta a domingo eu vendia 25 caixas de cervejas por semana. De 2014 até agora, final de 2019, para eu vender três caixas de cerveja tem que ser de segunda até no domingo. Isso quando vende. Eu tinha condições, tinha como fazer o meu estoque, mas de tanto ser roubada eu não tenho mais. Fui roubada oito vezes. Em todas fui na delegacia e nunca resolveu nada. Outras vezes eu não fui mais e me virei por conta própria. As portas do meu bar foram quebradas várias vezes. Já paguei para botar segurança. Já gastei muito dinheiro”, aponta.
Com aluguel caro e sem investimentos em melhorias nos monumentos, os inquilinos e comerciantes se deparam com problemas nas estruturas. “Eu já adoeci da coluna de tanto puxar água daqui de dentro quando chove. Além disso, todos os anos temos que pagar documento, e não é fácil. Você gasta um absurdo para tirar um documento de permissão para o bar funcionar”, reclama Maria Raimunda.
A autônoma conta que os fios de energia já foram por diversas vezes furtados. Sem saída, ela teve que tirar do próprio bolso para pagar eletricista a fim de voltar a operar no local.
“Só eu que trabalho na minha casa. Tenho duas filhas já formadas e um filho que está se formando. Sustento três netos. Todos eles dependem de mim. Por isso ainda não fui embora. Esse bar aqui é tipo marido mau: ruim com ele, pior sem ele”, justifica.
A falta de segurança no Calçadão da Gameleira influenciou diretamente na frequência de fregueses no bar de Maria Raimunda.
“Muita gente sumiu daqui por causa dessas guerras de facção. A Gameleira é tipo uma fronteira. A gente trabalha de porta fechada. No final de semana, quando dá 10 horas da noite, a porta é fechada na grade. Dias de segunda, terça e quarta isso aqui vira um cemitério. As coisas aqui ficaram muito difíceis. Não tem segurança. Tem um monte de ponto aqui que está abandonado. Muitos servem só para pessoas se esconderem para usar droga. O governo devia fazer alguma coisa. Resumindo a história: isso aqui é um total abandono”, afirma.
Com recursos cada vez mais escassos, a autônoma conta que só paga o aluguel do estabelecimento em “pedaços”. O dinheiro, segundo ela, dá somente para comer. “De tanto me roubarem, eu fiquei sem condições de levar o meu bar. Estou sobrevivendo apenas”.
Indignada com a falta de investimentos no Calçadão da Gameleira, Maria Raimunda critica o governo e os políticos. “Eles só vêm em época de eleição, que é quando isso aqui fica mais movimento do que feira de peixe em Semana Santa”.
Tempos de ouro
O Calçadão da Gameleira ganhou seus monumentos na gestão do prefeito Jorge Kalume, eleito em 1988, segundo o historiador Marcus Vinícius. Em 2002 foi revitalizado e logo se tornou um espaço atrativo para a cultura, lazer, turismo e atividades físicas. Pelo menos foi assim por alguns anos.
Investimentos a caminho
A equipe do Jornal A GAZETA entrou em contato com a porta-voz do Governo do Estado, Mirla Miranda, para saber se há algum projeto de revitalização do Calçadão da Gameleira a caminho. Segundo ela, há previsão de investimentos de R$ 14 milhões para a encosta e R$ 6 milhões para urbanização para o primeiro semestre de 2020. Os recursos são oriundos de emendas da deputada federal Vanda Milani.