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Uma paixão a mais nunca é demais

CLÁUDIO MOTTA-PORFIRO*

         O Fluminense do Rio de Janeiro e os esportes de uma forma mais ampla, são a justa medida de um entusiasmo que está acima de qualquer razão por mais líquida que esta seja. Afinal, já cometeram blasfêmia, quando disseram que Deus não deveria ter colocado o item emoção ao preparar e executar o gigantesco projeto que foi a elaboração do ser humano. Hoje se nota que Ele estava certo. Sem o amor, nada seríamos além de máquinas sem o básico que é a libido em exageradas doses. Certo é que uma paixão a mais nunca é demais.

Entre os daqui de casa, é perfeitamente explicável a existência de um elo forte entre o Acre e o Rio. Tudo surgiu quando os barões da borracha queriam dar formação superior aos filhos e os enviaram a estudar medicina, direito e engenharia, lá fora, nas universidades cariocas, claro. A partir daí, o futebol do Rio de Janeiro passou a fazer parte da vida dos acreanos, isto, ainda nos anos 30, 40 e 50 do século anterior a este.

Armando Nogueira, o ícone da crônica esportiva carioca durante quarenta anos, é de Xapuri. O escritor destas linhas também é. O primeiro era torcedor do Fluminense. O segundo, orgulhosamente, o copiou tanto neste quanto em uma centena de outros aspectos. Eis a primeira das razões.

Como a literatura faz parte da vida do cronista menor, as melhores influências, naturalmente, viriam de outros tricolores históricos, como Mário Lago, poeta, ator e compositor, Chico Buarque de Holanda, poeta, compositor e romancista, e o multicultural Jô Soares que muito bem navega nas águas da literatura, notadamente, com a sua festejada Autobiografia Não Autorizada.

Bom é perceber que tudo foi sendo anotado ao longo do caminho que ainda está longe de acabar. O poeta e cronista faz parte da Academia Acreana de Letras, a congênere da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa a Cadeira 27. O patrono dele é o Coronel João Donato, pai do compositor João Donato. Coincidentemente, o velho aviador, ainda nos anos 40 do século passado, trajava uma camiseta do Fluminense por baixo da farda da Aeronáutica.

No final dos anos 60, o cronista era menino e estudava em um exemplar colégio de freiras, em Xapuri. Num desses dias, então, foi à casa de um amigo para estudar e se preparar muito disciplinadamente para alguma prova. Era a família Sarkis, descendente de libaneses aqui chegados no início do século 20. Aos doze anos, pouco ligado ao futebol, viu, colado à parede, um pôster com a base a partir da qual o Fluminense se sagrou o primeiro campeão brasileiro, em dezembro de 1970. É claro que o time jamais saiu da cabeça apaixonada do garoto. Os seus deuses favoritos atendiam pelos nomes de Félix, Oliveira, Assis, Galhardo e Marco Antônio; Denílson e Didi; Cafuringa, Mickey, Samarone e Lula.

Os anos seguintes, pois, registraram o auge da paixão futebolística do agora adolescente. Haviam outros ídolos, na música ou nas artes dramáticas, por exemplo, mas a máquina tricolor agora podia contar, principalmente, com Gérson, Rivelino e Dirceu. Eram momentos de glória, como muitos outros que vieram para a honra da nação pó-de-arroz.

Mas registrou-se um hiato. O antigo garoto fez cursos de pós-graduação em níveis de Mestrado e Doutorado. Se tornou muito mais racional e menos apaixonado como a maioria dos pesquisadores das ciências humanas. Os estudos acerca do materialismo histórico o levaram a tal. Muitas emoções foram sufocadas. O descrédito no humano se fez protuberante. Os abalos foram muito significativos. Todavia, para o bem do futebol, quatro paixões se mantiveram inabaláveis: o gosto pelas boas leituras, a elaboração das crônicas dominicais, a admiração e o endeusamento para com o belo sexo e, enfim, o Fluminense. Entre mortos e feridos, estavam todos a salvo.

A vida imita a arte. É justo assim. Agora, o cronista se fez palestrante, divulgador e vendedor dos livros escritos por ele mesmo. E, hoje, se sente imensamente feliz e honrado por haver recebido o convite para estar aqui e fazer esta singela saudação aos diretores do Fluminense que, depois de uma viagem que quase atravessaria o Atlântico, hoje aqui estão para este congraçamento com os torcedores do tricolor das laranjeiras no Estado do Acre. Agradeço aos que me indicaram para cumprir esta tarefa.

É conveniente emprestar ênfase a um fator de extrema importância. Jamais um clube carioca veio fazer visita alguma a quem quer que fosse. Muito ao contrário, vi um certo goleiro ser achincalhado por ser acreano. Sempre saindo na frente, o Fluminense Foot Ball Club está no Acre de bom grado e isso nos deixa plenamente regozijados.

Convém ainda fazer registro especial à presença honrosa de um dos maiores ídolos do Fluminense de todos os tempos. Romerito entrou para a história pela porta da frente, até porque permanece fiel ao clube tantas vezes campeão. Ele, realmente, tem amor ao tricolor.

Fico feliz por ver tanta gente reunida ao redor de um propósito nobre. Estão todos de parabéns, notadamente, a comissão organizadora deste evento. Muito me honra transmitir as saudações dos membros da FluAcre – a nossa torcida organizada – aos dirigentes do Fluminense aqui presentes. Assim como, também a eles agradeço a visita e devo lhes dizer, carinhosamente, que se sintam abraçados e fiquem muito à vontade, porque a casa também é sua.

Aos diretores Thiago Trindade Mendonça, analista de comunicação; Eduardo Mitke Brandão Reis, vice-presidente de relações institucionais; Daniel Cohen, curador da memória institucional; e Júlio Cesar Romero, o Romerito, os nossos mais sinceros agradecimentos.

Ficamos realmente muito felizes com as suas visitas.

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*Escritor. Membro da Academia Acreana de Letras, Cadeira 27. Autor de O INVERNO DOS ANJOS DO SOL POENTE e DOIS RAIOS DE SOL E MEIO PALMO DE LUA, romances, disponíveis pelo https://www.facebook.com/claudio.porfiro e na plataforma do Clube de Autores.

 

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