Em dias idos os humanistas preocupavam-se com uma sociedade justa e humana. Hoje, embora confiantes na capacidade da humanidade e em suas conquistas científicas, os humanistas estão preocupados com os aspectos despersonalizantes da tecnologia, que no atual sistema econômico manipula e orienta, a gente, para o consumo sem limites, fazendo o ser humano perder a criatividade e a alegria de viver naturalmente.
Hoje, ainda há, muitas pessoas de todos os níveis e segmentos sociais: cultural, religioso, político e educacional, alguns organizados em associações, daqui e dalí, que lutam pelo valores humanistas de direitos pessoais, liberdade e dignidade.
Humanistas, que agem, consideram e veem a humanidade em si mesmo e na pessoa dos demais, nunca como meio, mas sempre como fim em si mesmo,. Humanistas que que pelejam por uma melhor relação com os seres humanos e com a natureza, sem interferência e espaço para a instrumentalização. Este ideal humanista, de uma civilização com mais humanismo, permite que os seres humanos possam se sentir e se tratar como membros de uma só comunidade, não apenas pelo estreitamento das relações interpessoais, quanto pelo fato de compartilharem uma causa comum. Compartilhar a mesma condição, reconhecer em si e nos demais a mesma dignidade, enfim, sentir-se no mundo como co-habitantes da mesma.
Ao se regular pela idéia de humanidade e de perfectibilidade humana, essa conscientização proporciona a consolidação de um caráter no sujeito que o faz transcender a esfera da simples legalidade das ações, isto é, o acordo externo de sua ação com a letra da lei. Espírito da lei que deve entrar em nossa disposição, em nosso ânimo e ser a única fonte de determinação do agir.
O humanista se insere, como agente humano, nas atitudes e sentimentos dos indivíduos de um povo, grupo ou comunidade, suas realizações ou manifestações culturais. O humanista se alegra pelo bem geral, mesmo que não seja vantajoso para si mesmo.
O humanista está na contramão do desumano. Desumano é o homem kafkaniano representado em tudo o que o seu tempo tem de trágico, de irracional e de bárbaro. Desumano é tudo o que pretende levar o homem acima ou para lá dos próprios limites que o constituem, erigindo-o em realidade absoluta e auto-suficiente. É tudo o que, pelo contrário, o rebaixa para o plano de manifestação insignificante de uma realidade pré-determinada. Desumano é o homem considerado fora da história e da sociedade em que vive; fechado numa situação ultrapassável, e é também o homem reduzido a simples marionete da sociedade e da história.
Assim, nessa luta do humanista, contra o desumano, a humanidade caminha rumo ao pior, num palco em que todos reclamam e se queixam, diria Blaise Pascal (1623-1662). Todos indistintamente: príncipes, súditos; nobres, plebeus; velhos, jovens; forte, fracos; sábios, ignorantes; sãos, doentes; de todos os países, de todas as épocas, de todas as idades e de todas as condições.
Da minha alma humanista, quase no ocaso da vida, dou a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Esforço-me para fugir dos mitos modernos: riqueza, prazeres hedonistas; escapar do consumismo e da idolatria tecnológica (Toynbee). Luto para viver o homem ético (Kierkegaard). Almejo, para todos, uma vida de eticidade, pois só assim seremos socialmente livres (Hegel).
Anseio pela dialética da verdade e liberdade, com o fim de combater eficazmente aqueles a quem filosofo italiano Remo Cantoni (l914-1978) chama “os monstros da agressividade, da destruição e da violência, da obediência incondicional aos novos chefes autoritários e carismáticos”. Esses monstros, diz ainda Cantoni, têm feito incursões cada vez mais clamorosos e atrozes na cena do mundo, tornado a busca da verdade e a defesa da liberdade mais perigosas e mais difíceis.
HUMANISTA. E-mail: assisprof@yahoo.com.br
“Da minha alma humanista, quase no ocaso da vida, esforço-me para fugir dos mitos modernos”