Vive-se em tempos de pandemia, uma doença infecciosa que se alastrou pelo Planeta Terra. O coronavírus mudou o comportamento da humanidade. É uma realidade que não pode ser negada.
Por tratar-se de ameaça inédita, o Covid-19 desencadeou uma onda ameaçadora de insegurança. As pessoas se defrontam com uma situação em que a sobrevivência fica ameaçada, criam uma realidade virtual, e, assim, a corrida para os supermercados. O período de quarentena leva essa mensagem.
Dentro de princípios evolutivos, faz parte da natureza humana guiar-se pelo imperativo do verbo FUGIR. Sempre se procura fugir de uma situação ameaçadora da vida. Assim, procura-se um abrigo quando a tempestade se aproxima; afasta-se da eminência de uma avalanche; distancia-se de um incêndio. O período da quarentena provocada pelo coronavírus tem esta explicação científica neste conceito evolucionista. As pessoas “fogem” das ruas para o interior das suas casas como uma forma de proteção diante do perigo do contágio eminente.
Protegidas pela quarentena, as pessoas se deparam com uma nova realidade. Antes a dinâmica da vida e, agora, uma situação de imobilidade. Acrescente-se a isso o fato de agora se estar preocupado com a situação externa à sua casa, onde o coronavírus ronda, incansavelmente, como um inimigo mortal e ameaçador da vida e da saúde, à procura de um hospedeiro para a sua proliferação e disseminar a pandemia. Diante de tal realidade, é inevitável o desenvolvimento de estados de ansiedade e medo.
Diante da realidade do coronavírus, é inevitável refletir sobre a ameaça contínua; a possível contaminação própria ou de um dos familiares; a possibilidade da perda do emprego; os danos nos investimentos financeiros; a preocupação constante em lavar as mãos com sabão e álcool em gel para evitar contaminações; o cuidado para o uso de máscaras já que a doença é transmitida por vias aéreas; o pavor — lamentável — em cumprimentar pessoas como forma de proteção; filhos e netos impedidos de visitarem seus pais e avós. Enfim, uma pandemia como a criada pelo coronavírus é a gênese de uma realidade ansiosa e solitária instituída pelo isolamento social.
Quando se tem consciência desse estado emocional, a ansiedade passa a prevalecer sobre os estados mentais e, assim, instala-se o medo.
Nesses tempos de pandemia nunca esteve tão presente a expressão conhecida por muitos: “Mente sã em corpo são”. O medo estabelecido pelo coronavírus e a obrigatoriedade do período de quarentena provoca, inevitavelmente, mudanças no corpo (soma) físico, potencializando o surgimento de doenças de fundo emocional (psicossomáticas) como: taquicardia, pressão arterial alterada, disfunções estomacais e intestinais, irritações na garganta e na pele, distúrbios alimentares. Além disso, também podem afetar a mente, na forma de alterações de humor (como o sentimento de tristeza pelo que está acontecendo no mundo).
Criou-se um campo fértil para que a tristeza possa transformar-se num transtorno depressivo, com seus sintomas característicos: dificuldades para dormir, vazio existencial, isolamento, desesperança, pessimismo, irritabilidade, perda do prazer, fadiga, desinteresse pela vida e pensamentos suicidas.
É o impacto mental da pandemia.
* Ivo Carraro é professor do Centro Universitário Internacional Uninter