Acompanhantes dos pacientes com Covid-19 internados no 4º andar do Pronto Socorro de Rio Branco denunciam a suspensão do uso da cápsula Vanessa, tratamento também chamado de Ventilação Não Invasiva (VNI). De acordo com a reclamação feita à Redação de A GAZETA, na noite desta segunda-feira, 8, um médico plantonista proibiu a continuação desse tipo de tratamento aos seus pacientes. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Acre, por meio de nota pública, não cabe ao órgão e nem à direção do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb) interferir na decisão do médico. No local, há 24 pacientes em estado grave da doença.
A empresária Lígia Araújo está como acompanhante no local. A mãe Marilúcia Gomes, 58 anos, e o irmão Marcos Giovane, 39 anos, deram entrada no Pronto Socorro nos dias 21 e 26 de maio, respectivamente. Ambos possuem comorbidades. Para ela, o tratamento de VNI tem sido o responsável pela melhora significativa dos seus familiares.
“Minha mãe foi internada no 4º andar do Pronto Socorro em estado grave da Covid-19. Lembro que na época até denunciei ao jornal as condições em que estávamos e logo me conseguiram uma vaga na UTI. Contudo, a Dra. Fabíola e a Dra. Helen me apresentaram esse tratamento com a cápsula Vanessa e me pediram uma chance. Hoje eu sou grata por ter aceitado, pois minha mãe já está quase 100% curada e meu irmão, que está em estado grave, também vinha apresentando melhoras”, disse.
Lígia teme que, com a suspensão do tratamento de VNI, seus familiares piorem. Ela receia também pela vida dos demais pacientes internados no local.
O tratamento de VNI no 4º andar do Pronto Socorro de Rio Branco é realizado por uma equipe médica e de fisioterapeutas. Por dia são realizadas no paciente com Covid-19 três sessões, cada uma com duração de 2 a 3 horas. Como há poucas cápsulas disponíveis, o equipamento precisa ser compartilhado. Mas Lígia explica que, após cada uso, o material é colhido para uma higienização completa. De acordo com a Sesacre, o Acre conta, atualmente, com 80 cápsulas Vanessas.
“Com a cápsula, os pacientes reaprendem a respirar. Eu costumo dizer que esse tratamento salva vidas”, declara a empresária.
Segundo Lígia Araújo, ao proibir o tratamento com VNI na noite desta segunda-feira, 8, o médico plantonista teria se exaltado com a equipe de fisioterapeutas. “Ele humilhou a equipe. Todos os acompanhantes ouviram. O médico Victor Milhomem disse não acreditar nesse tratamento, pois não há comprovações científicas ainda da sua eficácia. Claro, pois é tudo muito novo ainda. Contudo, eu acredito que o uso de VNI salva vidas. A cápsula Vanessa está salvando vidas. Por ele [médico], os pacientes deveriam ser intubados, mas nós, familiares, não acreditamos que intubar seja a solução. Tememos, pois muitos que são intubados não voltam mais”, afirmou.
A empresária declara que ela e os demais acompanhantes aguardam o retorno do tratamento com VNI ainda nesta terça-feira, 9. Contudo, caso a direção do Pronto Socorro mantenha a medida proibitiva adotada pelo médico plantonista, os acompanhantes planejam um protesto no local.
Relatos de quem acredita no tratamento com uso da cápsula Vanessa
O tratamento com uso de Ventilação Não Invasiva (VNI) tem sido considerado por muitos como positivo. Em Rio Branco, os pacientes internados no 4º andar do Pronto Socorro até o chamam de “cápsula da vida”. Veja alguns relatos que pedem pela permanência do tratamento:
“Resolvi fazer esse vídeo em apoio aos fisioterapeutas, ao uso da cápsula e ao trabalho de VNI. Quero incentivar aos fisioterapeutas a restabelecerem esse protocolo, a trabalharem a mente dos pacientes, para que aceitem essa atividade. Isso é salvador. Ser livre da intubação é algo muito mais valoroso. VNI ajuda. A cápsula ajuda e traz, sim, essa transformação, a recuperação. Busque. Isso deu certo comigo, me salvou e quebrou todos os protocolos. Hoje eu estou aqui, graças a Deus”. Leandro Muniz teve alta médica e já está em casa.
Meu nome é Cláudia, tenho 32 anos e fiquei internada 10 dias no PS com Covid. Eu cheguei muito doente, quase sem conseguir respirar. A equipe da doutora Fabíola me recebeu. Meu caso era tão grave, que era para eu ser intubada, mas a Dra. Fabíola acreditou em um tratamento para mim, que foi a cápsula. Eu cheguei sem conseguir andar, sem conseguir me alimentar. No segundo dia de internação, começaram o tratamento da cápsula. Fiz nove vezes, duas vezes ao dia, e realmente que foi o que salvou a minha vida. Com cinco dias de cápsula eu já conseguia me levantar e me alimentar sozinha. Foram dias de apreensão, pois eu não sabia se ficaria viva. Por isso minha gratidão a toda equipe do PS e à equipe da Dra. Fabíola, especialmente, pois ela está fazendo um trabalho excepcional. Esse tratamento com as cápsulas está salvando vidas. Todos que fizeram junto comigo apresentaram melhoras. Desejo que continuem esse trabalho”. Cláudia Teixeira já teve alta médica.
“Eu chamo de cápsula da vida. Eu acho injusto um tratamento que estava indo certinho com a equipe da Dra. Fabíola parar. Nesse momento a gente tem que tentar tudo, principalmente com a cápsula. Hoje estou de alta, esperando o meu filho que precisa fazer e pararam tudo. Gostaria que revessem isso, porque é vida. Com vida não se briga. Eu cheguei aqui com o pulmão todo furado e se não fosse essa cápsula VNI, com certeza eu era mais um óbito também. Estou clamando como mãe, que continuem esse tratamento, pois meu filho está aqui dentro e precisa também”. Marilúcia Gomes, 58 anos, internada no 4º andar do PS desde o dia 21 de maio.
“Se não fosse essa cápsula eu não estaria nem viva ainda. Eu acho ridículo a pessoa proibir uma ajuda sobre as pessoas que estão aqui sofrendo, morrendo com falta de ar. Ele só faz isso porque está lá na casa dele de boa, sem doença, sem falta de nada. Por isso essa cápsula é útil para ajudar os que estão morrendo aqui”. Francisca de Assis, 74 anos, é paciente com Covid-19.
Sesacre diz que cabe ao profissional médico determinar o uso da cápsula Vanessa
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), por meio da Gerência de Assistência do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), disse que não houve prejuízo para nenhum paciente em tratamento de Covid-19 quanto à decisão do médico de plantão da noite desta segunda-feira, 8, de não prescrever a cápsula Vanessa, equipamento usado como alternativa à intubação, para os seus pacientes.
Ainda segundo a Sesacre, as cápsulas continuam sendo utilizadas no tratamento de muitos internados, mas sempre em consonância com o entendimento dos profissionais médicos, os únicos com critérios técnicos e científicos para determinar se elas devem ser usadas ou não. Sendo assim, a secretaria e a gerência do Huerb declararam que não irão interferir.
Confira a nota na íntegra:
NOTA PÚBLICA
A Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), por meio da Gerência de Assistência, do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), comunica que não houve prejuízo para nenhum paciente em tratamento de Covid-19 quanto a decisão do médico de plantão da noite desta segunda-feira, 8, de não prescrever a cápsula Vanessa, equipamento usado como alternativa à intubação, para os seus pacientes.
A Sesacre informa ainda que o desentendimento entre os profissionais, sobre o uso ou não do equipamento, foi contornado com uma conversa mediada pela direção do Huerb e esses mesmos trabalhadores.
Segundo a gerente de Assistência do Huerb, Mônica Nascimento, o médico é autônomo nas suas decisões sobre o que ele entende que é melhor para a recuperação de seus pacientes. Isso significa que se o profissional não prescrever a adoção da cápsula Vanessa não tem como ela ser usada.
As cápsulas continuam sendo utilizadas no tratamento de muitos internados, mas sempre em consonância com o entendimento dos profissionais médicos, os únicos com critérios técnicos e científicos para determinar se elas devem ser usadas ou não. Portanto, não cabe à Sesacre, nem à direção do Huerb, interferir nesta decisão.
Rio Branco, AC, 9 de junho de 2020
Secretaria de Estado de Saúde do Acre