A destruição da Amazônica causará um impacto altamente negativo para a economia, mas três setores correm grandes riscos: o agronegócio, o transporte fluvial e as hidrelétricas. Todos têm em comum a sustentabilidade das suas atividades diretamente ligadas à abundância de água. Os prejuízos já podem ser sentidos, com as secas enfrentadas por diversos estados brasileiros, as mudanças climáticas, o desmatamento crescente e os incêndios mais numerosos e intensos dos últimos anos.
Na avaliação de Ivo Pugnaloni, engenheiro eletricista, presidente do grupo ENERCONS, o problema é que ultrapassar esse ponto de virada não seria apenas um desastre para a biodiversidade e desprenderia enormes quantidades de carbono desestabilizando ainda mais o clima do planeta, mas, também, devastaria a economia brasileira ao prejudicar muito o agronegócio e a produção de energia elétrica, dependentes de um ambiente úmido e estável. “A abundância natural de água no bioma amazônico beneficia com regularidade a agricultura, o transporte de commodities pelos rios brasileiros e a produção de energia elétrica em inúmeras usinas ao longo dos rios que cortam a vasta região. Mas, agora, o ciclo hidrológico da Amazônia está sob ameaça”, explica.
Para o especialista, a redução das chuvas e safras mais curtas também colocam o agronegócio brasileiro em risco. “Embora os cientistas se apressem para desenvolver variedades agrícolas resistentes ao calor e à seca, muitos duvidam que essas plantas possam acompanhar o clima em transformação”, diz. Pugnaloni, que é presidente da ENERCOS, empresa projetista de hidroelétricas de pequeno e médio porte, diz que ignorar essa ameaça apresentada pelo ponto de inflexão da floresta seria um verdadeiro tiro que o empresariado brasileiro daria em seu próprio pé se não usar sua influência para defender as políticas ambientais.
Segundo a ONU, é preciso acelerar a transição para um modelo de agricultura livre do desmatamento com foco em deter o aquecimento global e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em média, 7 milhões de hectares de florestas tropicais desaparecem todos os anos, o que é equivalente a 26 campos de futebol, a cada minuto. Na maioria das vezes isso é resultado da agricultura. Mas, para alimentar a população crescente os agricultores precisam produzir mais e a solução mais rentável para eles é desflorestar o terreno. Conforme a entidade, hoje, aproximadamente 40% da nossa superfície terrestre já é dedicada à agricultura. Se isso continuar, não conseguiremos combater a crise climática. “Exageros à parte, que geralmente vêm de fora do Brasil, as políticas ambientais existem para proteger não apenas as plantas, os animais, mas a própria sociedade humana, sejam as da floresta ou da cidade. Destruir, queimar e degradar alho do tamanho do bioma amazônico não acontecerá sem grandes impactos, mas terá consequências enormes para o regime hídrico de todo o continente, prejudicando o agronegócio, a indústria florestal e madeireira e, principalmente, a geração hidrelétrica”, diz o consultor, ex-presidente da ABRAPCH.
O último relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), aponta que o desmatamento é a 2ª maior causa das mudanças climáticas. Na pesquisa, a entidade relata que a florestas são responsáveis por absorver aproximadamente 2 bilhões de toneladas de CO2, mas, ao serem desmatadas elas se tornam o principal motor do aquecimento global. O relatório mostra ainda que, aproximadamente, 20% das emissões de gases do efeito estufa são causadas pelo desmatamento. Em números, a entidade relata que de 1990 a 2015 o total de área de florestas no mundo caiu de 31,6% para 30,6%, mostrando que as emissões geradas pela destruição das áreas florestais são maiores do que as de todo o setor do transporte, ficando atrás apenas da queima de combustíveis fósseis. “Alguns sinais do impacto disso já podem ser percebidos, já que as secas estão se intensificando. Por exemplo, a hidrelétrica de Belo Monte, de US$ 9,5 bilhões, já enfrenta grande redução na vazão sazonal do Rio Xingu. Essa tendência deve se acentuar, podendo tornar a usina muito menos economicamente viável e ameaçar o projeto da mina de ouro Belo Sun”, comenta Pugnaloni. (Texto Cedido / Lide Multimídia)