Cancelamos as passagens do janeiro pernambucano. Ponto. Agora, em janeiro mesmo, completamos – as meninas e eu – um ano sem encontrar a minha mãe, meu pai, minha irmã e as crianças dela, os tios, os primos e o mar de Boa Viagem.
A casa inteira já se preparava para as férias. Na semana passada chegaram pelo correio o biquíni da Lalá e o maiô da Sofi. E sim, é péssimo comprar roupa de banho online, mas já nos faltava coragem de ir até uma loja física para prová-los. Os do ano passado não servem mais. Assim como já não cabem os shorts e as camisetinhas de verão. Cresceram. Percebemos o quanto na hora de fazer as malas. Quase um ano sem sair para pegar sol.
Nas malas havia também o desejo do calor de Recife. Esse que a gente sente na pele suada desde o primeiro segundo em que se sai do banho, até aquele outro que só é possível experimentar quando estamos diante – fisicamente – dos nossos. Havia a certeza da mesa de café da manhã ocupada até quase a hora do almoço. Mesa posta, tanto para o café quanto para o almoço, com a louça nova que mainha adora tirar do armário quando a gente chega. Havia o rodízio de quartos combinado entre as crianças, o cardápio que a minha mãe escreve no caderninho desde que a gente é pequena. Tem que ter isso, que fulano adora, e aquilo outro, que beltrano tá com vontade. A ida à casa dos doces para comer surpresa de uva, e à casa de tia Lena, claro, mais doce do que qualquer surpresa. Haveria o abraço em Poly e a tão esperada convivência com Celina, minha sobrinha nova que só vi uma única vez.
Mas como vocês sabem, longas horas à mesa, aglomerações, visitas e abraços não são recomendados. Janeiro não se anuncia bem no nosso país. As horas de avião e aeroporto comprometeriam qualquer exame negativo que pudéssemos levar embaixo do braço. Teve choro, tentativas mil de fazer dar certo e agonia na troca intensa de mensagens que antecederam a decisão. Mas teve também senso de responsabilidade, teve cuidado. Nenhum motivo pode ser considerado bom para cancelar o encontro. Mas alguns são grandes o suficiente. Ano que vem, a essa altura, escreverei pra vocês com meus pés na areia da praia. E há de ser um texto menos duro, prometo tentar. Boas festas, queridos.
(*) Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…