Comemorou-se, neste dia 19 de abril, no Brasil e em vários outros países do continente americano, o Dia do Índio.
Com todo o respeito, olhando a situação atual dos povos indígenas, não há nada a comemorar. Por exemplo, pergunta aos ambientalistas, bem como dos xinguanos que vivem na região próximo ao município de Altamira, no Pará, o que eles acham, sem achismo, da Hidrelétrica de Belo Monte e de seus “benefícios” às terras indígenas do Rio Xingu. Pergunta! Não há benefícios. O que existe lá é um impactante estrago ao meio ambiente, notadamente para os índios ou indígenas que tiram do rio o seu sustento. Somente este exemplo serve, neste espaço circunscrito, para mensurar a situação dos povos indígenas nos quadrantes da nação brasileira. Dizer mais é “chover no molhado”.
Todavia, para aguçar as nossas mentes, sem querer “encher linguiça”, a condição do índio em terras brasileiras, desde 1500, é a mais injusta possível. Já no primeiro século da descoberta do Brasil, a função básica da indiada cativa, no dizer do antropólogo Darcy Ribeiro (1922-197) foi a de mão-de-obra na produção de subsistência. Para isso eram caçados nos matos e engajados na condição de escravos. Índios legalmente livres, mas apropriados pelos seus senhores através de toda sorte de vivência, licenças e subterfúgios. Fato só sobrepujado, a partir do século XVII, com o advento da escravidão negra.
Desta época até os dias atuais, pouco ou quase nada mudou quando o assunto é pensar nossos índios. A maioria da gente urbana, mesmo os metidos a pensantes, nada sabe dessa gente chamada nação indígena do Brasil. É irrelevante, para muitos, a reflexão sobre o extermínio de índios. Não sabemos nada, do descobrimento até hoje, por exemplo, das chacinas, da escravatura e das doenças endêmicas que acometem e matam milhares de índios. Os nossos políticos, não queimam as pestanas na criação de projetos, em busca de uma política governamental que consiga efetivamente proteger os índios contra os interesses dos não índios. No máximo, como agora quando os países estão sendo “apertados” ao cumprimento de metas climáticas que envolvem diretamente o meio ambiente, um deputado sugeriu, como “solução”, uma nova demarcação em terras indígenas. Não passa deste ponto, pois não há, da parte de quem de direito, envidados esforços no sentido de que sejam preservadas as culturas, as tradições e a maneira de viver dos índios.
Para não dizerem que este articulista só faz críticas e aponta defeitos, peço aos homens letrados e suas leis, como simples sugestão, que a reparação de séculos de negligência, contra os nossos irmãos indígenas, tenha seu começo pelos nossos glossários. Os nossos dicionários os chamam de “gentios” e traçam um perfil de alguém não civilizado; bárbaro, estrangeiro e outros adjetivos exóticos. Nos nossos glossários, índio não é gente!
É pedir demais?
“…sem querer “encher linguiça”, a condição do índio em terras brasileiras, desde 1500, é a mais injusta possível”
Francisco Assis dos Santos é humanista
E-mail: assisprof@yahoo.com.br