Sob os efeitos dessa tragédia de nome COVID-19 a fome no Brasil recrudesceu, alargou-se de tal maneira que já somos 19 milhões de famintos. É fome mesmo.
A fome é, por décadas, uma parceira da gente brasileira e, dizem os especialistas no assunto, se não houver uma inversão de valores, se não se instaurar uma economia submetida à política e uma política orientada pela ética inspirada numa solidariedade básica não haverá possibilidade de solução para e subnutrição deste país. Alias, 55% do povo brasileiro é subnutrido. É só olhar a estatística desta semana que findou.
Nesse caso, estamos falando de fatores vitais no debelar da fome: solidariedade; desigualdades e; políticas públicas.
No campo da solidariedade, estou entre aqueles que crêem que a sociedade, da qual faz parte toda coletividade, tem parcela de culpa no grande tributo da desgraça social em que estão metidos milhares de famílias, constituídas de pais desempregados e filhos, na maioria crianças e adolescentes, porquanto com fome, corrompidas por toda sorte de perversões. Provavelmente aí esteja a raiz da corrupção da raça humana. A maioria se corrompe porque está com fome; diferente de grande parte dos que detém o poder, que são corruptos por cavalar ganância.
Por outro lado, desculpem o cacoete de linguagem, o Brasil é um campeão mundial de desigualdades sociais. Alguém pode dizer que essa “desigualdade esmagadora” é a realidade da história da humanidade, com tendência a se perpetuar, pois que chegou até aqui debaixo do grande dilema, o dilema do paradoxo humano da convivência dos dominadores, ricos e poderosos, com os dominados, pobres e miseráveis, e das diferenças entre países de primeiro mundo com países emergentes do terceiro mundo.
Essa é uma verdade inegável, pois o conceito de desigualdade ou estratificação social indica que os homens estão colocados em posições diferentes no que respeita ao acesso aos bens sociais a que todos, em geral, aspiram, mas cuja disponibilidade é escassa.
No quesito das políticas públicas, neste país de dimensões continentais, é necessário fazer mais do que vir a público repetir enfadonhamente: “vamos retomar o crescimento!” Uma bazófia ou mesmice que os políticos, notadamente do Congresso Nacional, vivem a reverberar como se o povo fosse totalmente idiota. É certo que grande parte da nação está idiotizada, produto de culturas que na melhor expressão do termo, poderiam ser taxadas de “escrotas”. O Big Brother é um campeão dessa “escrotice”.
A nossa gente precisa, como nação, da parte dos que dirigem este país, muito mais do que quimeras ou promessas descabidas, de atitudes sérias na condução da coisa pública. Estamos cansados de discursos “politicamente corretos”, mesmo porque todo discurso politicamente correto é fascista. Porquanto, é notório e público, que o combate à fome e a miséria não se fará com discursos falaciosos e, muito menos, com ações sociais assistencialistas. Mas, com medidas enérgicas no campo da economia.
“A maioria se corrompe porque está com fome; diferente de grande parte dos que detém o poder, que são corruptos por cavalar ganância.”
Francisco Assis dos Santos é teólogo e humanista.
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