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Quantidade de cocaína apreendida na fronteira aumenta mais de 50 vezes, no 1º semestre de 2021

cocaína
Regional constatou um aumento de cocaína apreendida de 2020 para 2021.

Fronteira com outros cinco municípios acreanos, com o estado do Amazonas e com o Peru, não é de hoje que a regional Tarauacá/Envira (Jordão, Feijó e Tarauacá), assim como grande parte do Acre, faz parte rota do tráfico de drogas. Seja pelo aumento do tráfico ou pela fiscalização mais eficaz, o fato é que a quantidade de cocaína apreendida na região aumentou mais de 50 vezes, se compararmos os dados do primeiro semestre de 2020 com os deste ano.

A cidade de Tarauacá, localizada a mais de 400km da Capital, apresenta o maior aumento. De janeiro a junho de 2021, foram apreendidos 44,5kg de cocaína, enquanto, no mesmo período do ano passado, a quantidade foi de 1,26 kg. O número total sobe ainda mais com a última apreensão, realizada em julho, que apreendeu 115kg de cocaína.  Os dados são da delegacia geral de Polícia Civil de Tarauacá.

Confira um comparativo da quantidade de maconha e cocaína apreendidas nos primeiros semestres de 2020 e de 2021. Dados cedidos pela Polícia Civil.

Em Feijó, a quantidade de cocaína apreendida subiu de 3,5kg, em 2020, para 34,15kg, neste ano, quase 10 vezes mais. No caso do município de Jordão, a polícia não conseguiu fornecer os dados do ano passado, apresentando apenas as apreensões deste ano.

Enquanto isso, a quantidade de maconha apreendida reduziu. Em Feijó, caiu de 5,1kg para 4,06kg, nos primeiros semestres. E em Tarauacá, passou de 20,85 kg, em 2020, para 7,42kg de maconha apreendidos neste ano.

O delegado Valdinei Soares, coordenador geral da região, afirma que as barreiras policiais nas estradas e rodovias foram intensificadas, neste ano, e acredita que seja esse o principal motivo para apreensões maiores. Para ele, as apreensões na BR-364 se tornam mais eficazes por deter o material antes de chegar aos destinos finais. “O que mudou, a meu ver, foi essa visão de mentalidade em relação às operações policiais que são feitas na BR. A droga deixa de circular na cidade e, com isso, o tráfico em pequenas proporções deixa de ocorrer”, comenta.

Droga apreendida na BR-364, em Tarauacá, que foi incinerada em julho (Foto: Polícia Civil)

Responsável pela Delegacia de Combate ao Narcotráfico (Denarc), o delegado Karlesso Nespoli acredita que, de forma geral, em todo o Estado, há o aumento tanto nas operações quanto na circulação de drogas.  “A demanda também aumentou, seja por aumento populacional, seja repressão maior em outros estados, etc. E a droga acaba vindo pra cá. Mas a policia também está atuando de uma maneira mais forte, dentro das limitações” explica.

Soares afirma que maior parte da maconha que entra na cidade sai de Rio Branco e acredita que as fiscalizações da Capital tenham afetado na quantidade que chegou a Tarauacá neste ano. Entretanto, ele se preocupa com a cocaína que tem circulado.

“Acredito que a cocaína é mais preocupante, haja vista o poder de viciar as pessoas, é uma droga mais pesada que a maconha. Sendo que dentro vem ainda os derivados como o oxidado de cocaína, que popularmente é o crack, ele é mais viciante. Então é uma preocupação a mais para os órgãos de segurança”, diz Soares.

Delegado Valdinei Soares acredita que as operações realizadas nas estradas são as mais eficazes. (Foto: Arquivo pessoal)

Combate ao tráfico

O Acre possui mais de dois mil quilômetros de fronteira com o Peru e a Bolívia, dois dos três maiores produtores de cocaína do mundo, segundo a ONU (Colômbia completa o trio). Tamanho território demanda investimento de segurança proporcional, o que ainda não é feito, segundo o o delegado Karlesso Nespoli.

“É difícil trabalhar se não tem investimento pesado. E ainda não existe esse investimento. Houve sim uma união de esforços maior para essas apreensões, mas isso não basta, é o mínimo do mínimo. Não tem necessidade de esconder isso de ninguém, a carência é enorme(…) de equipamento, de capacitação, de tecnologia, de pessoal, isso em nível de Brasil hoje, não é só no Acre” , lamenta.

A união de esforços que ele destaca trata-se da Operação Narco Brasil, deflagrada no início de julho deste ano. A ação nacional uniu forças de vários órgãos de segurança de cinco estados, incluindo as do Acre, e apreendeu cerca de 500 toneladas de droga, em um mês.

Na região Taraucá/Envira, o delegado Valdinei Soares aponta também a implantação do  Programa Nacional de Segurança nas Fronteiras (Vigia), em setembro de 2019, e do Grupamento Especial de Fronteira (Gefron). “As apreensões ocorreram numa quantidade maior, tendo em vista essa política nacional e também estadual no combate ao crime de tráfico de drogas”, relata.

Delegado Karlesso Nespoli reforça a falta de investimento no sistema policial( FOTO/ DIVULGAÇÃO)

Karlesso também reconhece os esforços, mas defende que ainda falta investimento, principalmente no setor de investigação. “É a parte que a gente pode prender pessoas, que são traficantes, mas que não tocam na droga”, destaca.

Sobre os investimentos nesta área, a Segurança do Estado divulgou as principais ações, durante os 28 meses da gestão, entre ampliação de frota, de efetivo, tecnologias adquiridas e programas criados. Destacam-se a criação do Grupo de Enfrentamento aos Crimes de Fronteira ( PM, PC e CBM); a criação do Centro Integrado de Inteligência e de 5 Núcleos de Inteligência no Interior; a implantação do servidor de Hiperconvergência para Integração dos Bancos de Dados;  a nomeação de 256 Policiais Civis em 2019/2020 e a incorporação de mais 200 policias militares que está em andamento.

Operações no interior

Fruto de investigações e denúncias, as operações na BR-364 são as que a polícia consegue apreender maiores quantidades de droga de uma vez. Valdinei Soares explica que, no interior das cidades, é comum ocorrer prisões em flagrante, mas com apreensões menores, de até 50 trouxinhas, no máximo.

O Rio Liberdade, que faz divisa com Tarauacá e está localizado a 80 quilômetros de Cruzeiro do Sul, serve como ponto de apoio das operações, que contam com o apoio de vários órgãos. Antes do rio, equipes do Denarc e do Gefron tomam a frente das fiscalizações, enquanto a PM e a Polícia Civil supervisionam do rio até a entrada da cidade, de acordo com o delegado Soares.

Com relação à cidade de Jordão, parece haver uma inversão das outras duas cidades, pois há mais apreensão de maconha do que de cocaína. Durante o primeiro semestre de 2021, foram apreendidos 515 gramas de maconha e 636 gramas de cocaína. Apenas no mês de julho, a polícia aprendeu mais 462 gramas , quase o valor total dos seis primeiros meses. Enquanto a quantidade de cocaína, em julho, foi de 25 gramas.

Valdinei Soares explica que a substituição dos policiais da cidade, em dezembro de 2020, colaborou para o reforço do trabalho. ”Os policiais que lá se encontram tem procurado efetivamente combater o crime de tráfico de drogas”, declara Soares.

Leia também: Mais de 100 kg de cocaína são apreendidos na BR-364

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