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Civilização palco

É o medo do sofrimento nossa maior causa de sofrimento. Nesta civilização do espetáculo, todos são vitoriosos, ostentadores de certificados, títulos, posses e selfies radiantes. O terror do fracasso penetra o espírito de forma virulenta. Isso nos faz compreender bem a contemporaneidade do mito zumbi – o morto vivo que só existe para consumir e contaminar.

Os exibidos, já vítimas patéticas da fake happy, têm saliva altamente contagiosa. Sábios de tradições ancestrais, filósofos estoicos e até mesmo Nietzsche, com seu conceito de Amor Fati (amor ao Destino), são curadores de alma cujo remédio é a aceitação plena da vida. Dizer sim à vida implica dizer sim também ao sofrimento quando este se faz inevitável. Vivenciar a dor do corpo e da alma traz aprendizagem e amadurecimento. Aceitar a si mesmo, com nossos supostos defeitos, insuficiências e fracassos. Eis a verdadeira grandeza de um ser humano.

Por isso, sempre me toca esta passagem do profeta: “Ainda que a figueira não floresça e não haja frutos nas videiras, ainda que a colheita de azeitonas não dê em nada e os campos fiquem vazios e improdutivos, ainda que os rebanhos morram nos pastos e os currais fiquem vazios, mesmo assim amarei o meu Destino; exultarei no Deus que tudo proporciona para minhas metamorfoses! Confiar na Divina Providência é a minha força! O Soberano, em seu mysterium tremendum, torna meus pés firmes como os da cabra montês, para que eu possa andar nos lugares mais altos de mim mesmo.”

Beth Passos
Jornalista

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