O vírus despiu os neuróticos, os medrosos e os falsos corajosos.
Ele despertou muita empatia e também revelou os que desconhecem a compaixão e o respeito ao próximo.
Escancarou as fobias, o medo da morte e a nossa insistência burra em tentar controlar o incontrolável.
Pôs na rua os falsos rebeldes, os que desobedecem somente pelo prazer infantil de confrontar e provocar.
Estes por sua vez foram vigiados através da janela virtual pelos patrulheiros da liberdade alheia, os cagoetes anônimos vigilantes do tal isolamento social, gente que não produz, não cria, não inspira, não transa.
A pandemia nos engasgou com a chatice militante dos que politizam até a morte de parente, papagaios ideológicos embriagados em suas paixões patéticas, e que mal percebem estarem sendo manipulados pela desinformação em massa, independente das cores e canalhas que defendem.
Essa doença tão perigosa para o pulmão também se mostrou cruel ao atingir o nosso sistema cerebral, que abriu mão do pensamento próprio para acreditar naquilo que convém, desprezando a realidade dos fatos mais evidentes e optando por depositar a nossa esperança ou “opinião” em números inventados e incongruentes, “estudos” comprovados por ninguém e manchetes mórbidas e tendenciosas.
O corona vírus nos tirou a liberdade, mas também mostrou que são poucos os que estão dispostos a lutar por ela.
Nos colocou em abençoada solitude, que por falta de amor próprio e autoconhecimento se transformou em solidão, tédio e ansiedade.
Isso tudo vai passar. Não sairemos mais fracos, nem tão pouco mais fortes.
Bons, maus, chatos, bêbados, ansiosos, em evolução, produtivos ou procrastinadores, pouca coisa vai mudar.
Seremos apenas um pouco mais daquilo que sempre fomos.
Beth Passos
Jornalista