A comunidade Apiwtxa, do povo Ashaninka do Rio Amônia, no Acre, realiza o monitoramento constante do seu território. Neste ano, já foram realizadas expedições e articulação com comunidades do entorno, como parte do processo de gestão da terra Indígena Kampa do Rio Amônia.
Segundo a liderança Ashaninka, Francisco Piyãko, vigiar o território é uma prática do seu povo, que busca proteger o local. “A vigilância do nosso território é um trabalho necessário, pois as ameaças existem. Os impactos de uma ação crime ambiental não têm fronteira. De modo que nós ficamos muito atentos”, afirmou.
Ainda segundo Francisco, a manutenção da floresta representa a preservação da vida das populações indígenas. “O nosso território representa a nossa vida. E nós também estamos vigilantes sobre o que está ocorrendo no mundo, discutindo e entendendo as políticas globais para entender onde estão os apoios e ameaças. No Brasil, estamos preocupados, pois o que está acontecendo é uma total ignorância”, salientou.
Francisco reforça a preocupação do seu povo com as recentes decisões contra o Meio Ambiente, tomadas pelo Congresso Nacional. “Recentemente tivemos a aprovação, na Câmara dos Deputados, do PL 490, que ataca diretamente os direitos indígenas e as Terras já demarcadas. E nesta semana tivemos a aprovação do PL da Grilagem, também na Câmara. São decisões que alimentam ainda mais a invasão de Terras e o preconceito e desrespeito aos Povos”, afirma.
Expedições e articulação
O monitoramento é feito por meio de expedições e reuniões com comunidades do entorno. Com as ameaças das estradas no entorno, tanto no Peru, como no Brasil, e a constante invasão de caçadores e possível invasão de madeireiros, é preciso ter atenção constante às fronteiras da Terra Indígena.
Um exemplo, foi a expedição ao Igarapé Revoltoso, que é uma área importante para o manejo animal da comunidade. “Realizamos essa expedição em março até a cachoeira do Igarapé Revoltoso. Mais acima, conseguimos vistoriar outras cachoeiras. Essa é uma área de proteção e repovoamento dos animais, então, é uma área de manejo da Apiwtxa”, frisou.
Para Wewito, a beleza natural do lugar pode se transformar em um local de turismo ecológico. “Pode se transformar em um ponto turístico no inverno, porque no verão não tem condição, devido a distância e a pouca água no rio. Estamos sempre cuidando do nosso espaço, vigilantes para não ocorrer nenhuma invasão e destruição da nossa casa”, destacou.
Recentemente, a Apiwtxa realizou uma expedição nos limites de sua fronteira, no Rio Arara. Pois por ali, existem relatos e vestígios de invasão de caçadores e pescadores ilegais entrando na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia. Devido a isso, a comunidade irá montar um ponto de vigilância para haver maior controle na área.
Outra ameaça, que preocupa ainda mais a comunidade, é a estrada no lado peruano, ligando Nuevo Italia a Puerto Breu, a UC-105. Esta estrada, que já foi utilizada para extração de madeira no passado e estava fechada, está sendo reaberta de forma ilegal por interesses políticos e econômicos, incluindo tráfico de drogas, extração ilegal de madeira e invasão de território. As reuniões com as comunidades Ashaninka no Peru, de Sawawo e também em Dulce Glória, têm sido recorrentes.