Há sete anos, quando os amigos Lucas Dutra e Wesley Yuri, ambos de 25 anos, postaram um meme ‘tosco’(ver imagem abaixo), na página que haviam acabado de criar no Facebook, não imaginavam que hoje estariam fazendo vídeos de humor no YouTube. Fazendo piadas sobre o cotidiano acreano, a página “DesACREditados” conquistou a internet com memes e, atualmente, faz sua dupla de criadores começar a investir em um podcast com vídeos e até a ganhar dinheiro com publicidade.
Com montagens simples e, propositalmente, “mal feitas”, o “DesACREditados” ganhou fama, brincando com a realidade do acreano, da comida ao clima. O perfil começou no Facebook e foi para o Instagram, em 2018. Durante a pandemia, a página ganhou mais que o dobro de seguidores, subindo de 36 mil para 78 mil pessoas. Atualmente, os “DesACREditados” possuem contrato com uma empresa acreana, que divulga seu produto com as publicações hilárias, mas eles pretendem expandir ainda mais, apesar da resistência ou desconhecimento que ainda existem no mercado em relação ao segmento. “Ainda é difícil os empresários compreenderem como os memes podem ser publicitários”, desabafam.
Com pouco mais de três mil inscritos, o canal do YouTube é o novo investimento da dupla, que começou a publicar um podcast há quatro meses e, mais recentemente, um jornal humorístico que você pode conferir aqui.
Apesar do humor, o podcast aposta, principalmente, na outra vertente da página, a valorização regional. Durante os vídeos, a dupla convida diferentes personagens acreanos que eles acreditam valer a pena incentivar, como o Sargento Paz, o artista Dito Bruzugu, e os influencers Andrey Maia e Emily Aguiar. Lucas cita o goleiro Weverton como exemplo de personagem que buscam.
“A gente quer mostrar as pessoas antes delas ‘chegarem lá’ (fama), porque, depois que está lá, é muito fácil querer falar. Vai que acontece de a gente ter uma Rayssa (Leal) no Skate Park aqui? A gente quer dar o exemplo de que é tudo uma questão de falta de visibilidade”, comenta Lucas.
“É um bate papo normal, o pessoal acha que, por sermos uma página de humor, temos que fazer isso sempre, mas queremos fazer com uma pegada de entretenimento. Vai ter humor, obviamente, mas queremos conversar com várias pessoas, sobre assuntos diversos”, complementa Wesley.
Mesmo assim, o humor já é a linguagem natural da dupla, como é possível ver na primeira edição do “Desacreditados News”, lançada nesta semana. Uma das notícias anunciava uma mulher que havia sido flagrada fazendo baixaria na rua e, nas imagens, vemos a cena da clássica “baixaria” sendo preparada no Mercado do Bosque. É com esse humor, simples, despretensioso e cotidiano, que a página foi crescendo e hoje se mantem, praticamente, sem ‘haters’, afinal, quem não se identifica com o calor acreano ou com a nosso folclore?
Humor de identificação
É com este termo que Lucas define o humor da página criada pela dupla, pois é a partir dos elementos que compõem o cenário regional e a identidade do acreano que eles criam o conteúdo. Além do calor e das comidas, as personagens conhecidas pela cidade também geram os memes mais comentados. É o caso do professor Davi Friale, do morados de rua ‘Pai me dá um real’ e até do governador Gladson Cameli.
“As pessoas até acham que a gente está puxando o saco (do governador), mas não é, a página é de humor, aparece uma coisa engraçada, a gente posta. A gente já criticou o Gladson, que chegou a assessoria dele deixar de seguir a gente, aí pedimos para seguir de novo”, recorda Lucas.
A dupla afirma que não tem dificuldade em cobrar políticos ou denunciar quaisquer problemas sociais que acharem necessário, como estão fazendo com as queimadas, mas sempre com humor. Dessa forma, eles conseguem se manter em foco, sem criar inimizades, e as pessoas vão compreendendo o formato dos “DesACREditados”. Para eles, o limite está quando surge a ofensa.
“Quando vem ofensa, não tem mais humor. Eu, particularmente, gosto de brincar com tudo, independente do tema, mas, a partir do momento que você faz uma ofensa a uma pessoa, é complicado. E, hoje em dia, a internet não consegue diferenciar muito isso, está numa linha muito tênue (…) Então, quando a gente pensa que pode ser um post mais pesado, a gente manda um para o outro antes”, explica Wesley.
Com mais de dois mil memes publicados, outro desafio da dupla é criar conteúdo para um público tão variado, que vai de adolescentes a adultos, além de renovar memes que as pessoas gostam tanto e que sempre voltam à tona, como aqueles com o tema relacionado ao frio e ao calor. “Mas eu tento usar a loucura da mente para criar outros, e tem inspirações de memes nacionais que vem também”, brinca Lucas.
Wesley reforça que os próprios seguidores também enviam muitas sugestões, e a internet está sempre gerando novos virais e tendências, mas que a principal fonte de piadas nunca acaba: o Acre. “Sempre tem piada, não tem como não ter. Sempre tem coisa boa”, ele afirma.
“Em nenhum outro lugar do mundo, um caminhão bateu em um helicóptero, por exemplo (…) Impressionante como acontece coisa aqui no Acre que dá para virar meme e virar humor, o Acre ajuda muito”, comenta Lucas.
Além do Acre, os amigos se inspiram em humoristas e programas desde a infância.
Os caras por trás dos memes
Lucas Ribeiro Dutra nasceu em Cruzeiro do Sul e, além de trabalhar com a página, é professor de Física de um curso pré-Enem e estudante de Engenharia Elétrica. O humor entrou na sua vida ainda criança, pela influência do seu avô, radialiasta, que dizia que duas coisas podiam modificar o mundo: a política e a risada.
“Ele me colocava numa janela, me dava uma colher para fazer discursos ou contar piadas que ele me ensinava, e eu ficava com essa brincadeira. E entre ser palhaço e fazer os outros de palhaço, preferi ser o palhaço (…) Hoje, se eu brinco com a pessoa, é porque eu gosto dela”, recorda Lucas.
Como toda criança da década de 90, as primeiras referências midiáticas de Lucas foram na TV, onde ele teve os programas “Sai de Baixo” e “Casseta e Planeta” como primeiras referências de humor. Atualmente, na era da internet, ele cita o humorista Afonso Padilha como inspiração. Mesmo nome citado pelo parceiro do “DesACREditados”, Wesley Yuri Ribeiro, nascido em Rio Branco, que também é estudante de Gastronomia.
Welsey comenta que sempre foi de ‘tirar onda’ na escola, ou de fazer ‘alugação’, como diz o bom “acreanês”, e que sempre gostou de brincar, fazer piada. Desde pequeno, ele gostava de comédia, e tal afinidade incentivou a criação da página, que ele se inspirou em conteúdos como os das páginas “Bode Gaiato” e “Suricate Seboso”. Entre outras inspirações, ele menciona o humorista Léo Lins, Danilo Gentili e Whindersson Nunes, além de clássicos, como “A Praça é Nossa”.
O humor tem sido o elo da relação e do negócio que tanto tem dado certo para os amigos acreanos. “O humor, para mim, é primordial em qualquer lugar, você não consegue ter uma vida sem ter humor, você vive uma vida cinza”, declara Welsey.
“No pré-Enem, meu apelido era sorriso. Apesar de que, na vida, a gente vai rir e chorar, eu prefiro ver uma pessoa rindo do que chorando, acredito que o humor transforma”, completa Lucas.
Simples, humildes, divertidos e sonhadores, Lucas e Wesley pretendem expandir, cada vez mais, a página, com vídeos e entrevistas, mas sem perder os memes de vista, com a mesma “baixa” qualidade de sempre!
“A gente sonha que, quando falarem de humor acreano, as pessoas lembrem da gente, que riam com a gente”, declara Lucas.
“A gente já recebeu mensagens dizendo que a página ajudou pessoas a superarem no processo de depressão, então, quando a gente recebe esse tipo de mensagem, a gente sente um tipo de dever cumprido, a página está sendo importante”, finaliza Welsey.
Veja a entrevista completa em que eles comentam sobre como fazer publicidade com humor, como lidam para evitar os cancelamentos e mais sobre a história da página!