A pandemia de Covid-19 afetou inúmeras pessoas financeiramente e com a empreendedora Lidiane Magalhães não foi diferente. Aos 40 anos, ainda em 2020, quando o mundo aprendia a lidar com o novo coronavírus, ela se viu desempregada. E o que antes era apenas uma forma de compartilhar conhecimento, voltado a pessoas com restrições alimentares, acabou se tornando um negócio.
“Quando chegou a pandemia, eu acabei ficando sem trabalho. E aí, na saída do meu emprego, ninguém estava contratando. Eu fiquei desesperada e como essa questão de produtos, compartilhar informações é uma coisa do meu dia a dia, eu pensei ‘vou me virar com isso’. Já tinha uma vontade de empreender, porque aqui, até hoje, não tem variedade, eu encontro alguns produtos, mas não todos. Então, eu pensei: vou oferecer o que hoje os mercados daqui não oferecem”, relata Lidiane.
O negócio é o primeiro empreendimento de Lidiane, que transformou um blog em empório de produtos para pessoas com restrições alimentares, principalmente a leite animal e ao glúten, seja por uma questão de saúde ou por escolha, alergias e intolerâncias alimentares, como a da lactose, que tem se tornado muito comum. Além de empreendedora, Lidiane conhece bem o negócio, porque ela própria integra este público com restrição alimentar.
Há cerca de 10 anos, Lidiane descobriu que tinha intolerância à lactose, à soja e também sensibilidade ao glúten não-celíaca.
“Foi um desafio enorme [no início] porque, no primeiro momento, quando a gente retira algo que está acostumado a comer todos os dias, você fica perdida, e quando eu descobri a intolerância à lactose, tive que tirar leite, manteiga, pão e bolachas [à base de leite], queijo, iogurte […], foi bem difícil, porque eu não sabia o que comer, não tive a oportunidade, na época, para ir numa nutricionista para me ajudar a me alimentar, ia ao supermercado e não sabia o que comprar, porque tudo o que eu comprava tinha leite, então diminuí drasticamente a alimentação, perdi muito peso e às vezes eu ficava sem comer, porque não sabia o que comer”, relata Lidiane.
Após o choque do diagnóstico, que trouxe impacto direto no seu dia a dia, ela conseguiu se adaptar e percebeu que, assim como ela, muitas outras pessoas poderiam estar passando pelas mesmas dificuldades, logo criou um blog onde compartilhava receitas e informações sobre o assunto. Hoje, a página se tornou uma loja virtual que atende todo o Brasil, mas, principalmente, Rio Branco e outros municípios.
Tudo começou neste período de adaptação, há cerca de oito anos, quando Lidiane pesquisava na internet sobre o assunto e se inspirou em blogs e sites para falar mais sobre restrições alimentares. “Quando eu aprendi a comer, comecei a pesquisar sobre o assunto e ver em blogs e jornais, eu fucei tudo o que tinha na internet sobre o assunto, o pouco que tinha na época. Nos supermercados, não havia nas prateleiras produtos sem leite ou sem glúten, ou leites vegetais, que não fossem à base de soja, pois os leites veganos que tinham eram todos à base de soja e eu não podia consumir”, relata.
Com a dificuldade de encontrar informações completas e ainda comprar produtos específicos, Lidiane se sentiu obrigada a fazer tudo o que precisava em casa.
“Eu tinha que comprar ingredientes e eu mesma fazer, então percebi que aqui no Acre não tinha. Era difícil achar, e quando achava era muito caro, porque não eram produtos comuns do supermercado, então eu vi que faltava atender esse público que me incluía. Se o supermercado não tinha, outras pessoas como eu comiam o que? Logo, eu passei a comprar muita coisa de fora. Quando eu viajava, ia em locais especializados que tinham alguns produtos que eu podia consumir, sempre voltava das viagens com a mala cheia de coisas pra comer por um período”, conta.
De acordo com Lidiane, a maior procura tem sido por laticínios veganos, talvez pela dificuldade de adaptação das pessoas com o café da manhã, uma refeição que culturalmente é regada a leite. “Acho que o café da manhã é o mais difícil de adaptar, porque você está acostumado a comer produtos à base de leite, como pão, manteiga ou até o café com leite, então eu tinha essa dificuldade”, relata.
Mas, além dos produtos que naturalmente já se sabe os ingredientes, a exemplo dos derivados do leite, quem possui restrição alimentar encara muitos obstáculos no dia a dia como, por exemplo, ir a um restaurante.
“Hoje, se você for a um restaurante nas grandes cidades, já tem os que colocam a descrição do que ele está servindo, se tem ou não algum ingrediente alergênico, mas aqui em Rio Branco, com muita luta você descobre o que tem naquele prato. No feijão, por exemplo, alguns restaurantes colocam trigo para engrossar o caldo, e se você não passa essa informação, você coloca em risco quem tem intolerância ou alergia a trigo”, lamenta a empreendedora.
Público variado
O público da empreendedora é diverso. Há pessoas com intolerância alimentar, principalmente a lactose, a soja, e também pessoas com alergia, que pode ser a ovos, trigo, peixes e frutos do mar, soja, leite de vaca, entre outros. Além disso, ela também atende pessoas com diabetes, portadores de fibromialgia e pessoas com autismo, que necessitam de uma dieta sem alergênicos, além de adeptos do veganismo.
“Quando um cliente me procura e ele tem dúvidas do que comprar, eu relaciono quais ingredientes ela tem restrição, vejo quais alimentos aquela pessoa tem alergia e confiro na minha loja quais produtos não tem esse ingrediente e passo uma relação de produtos que ela pode comer tranquilamente. É um trabalho que demanda tempo, mas dá segurança de compra ao cliente. É difícil encontrar pessoas que entendam do assunto”, destaca.
Para conhecer o negócio da Lidiane, é só acessar o site ou ainda a página do instagram.