O céu repleto de fumaça tem sido uma imagem constante nos últimos dias, no Acre. Em época de poucas chuvas, a média do nível de concentração de partículas no ar no Estado foi de 37 microgramas por metro cúbico (µg/m³), nesta segunda-feira, 9. Quantidade bem acima do indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS): média abaixo de 25 µg/m³.
Em Rio Branco, a média na última segunda-feira foi de 43 µg/m³; em Acrelândia, a média chegou a 70 µg/m³; e a 49 µg/m³, no município do Jordão, valores preocupantes para a saúde da população. O doutor em Ciências de Florestas Tropicais e diretor executivo do Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais do Estado do Acre (IMC), Willian Flores, explica que quando a concentração de partículas está acima de 25 µg/m³, as pessoas mais sensíveis (como crianças e idosos) e as que já possuem algum problema respiratório começam a ser atingidas.
O arquiteto Felício Barbosa, de 26 anos, têm sofrido com a fumaça. Ele, que já teve casos de rinite, está se recuperando de uma inflamação na laringe e afirma que o período tem dificultado o processo. ” Eu já tinha me curado (da inflamação), mas com esse tempo seco e a fumaça tenho tido alguns quadros de incômodo na laringe. Além disso, venho sentindo dores de cabeça praticamente todos os dias. Acredito que essa fumaça influencia muito, porque normalmente eu não sinto”, reclama.
Quando este valor passa de 50 µg/m³, qualquer pessoa pode sofrer com a poluição do ar. “Dá para ver nitidamente hoje que temos o ar pesado e isso traz problemas imediatos e, os mais graves, a longo prazo. Existem estudos que mostram que esse material particular, que é muito fino, entra no sistema respiratório e depois entra na corrente sanguínea, e pode funcionar como se a pessoa tivesse uma dieta rica em gordura, ocasionado problemas coronários, isso a longo prazo”, alerta Willian Flores.
O período da noite e da madrugada, entre as 18h e as 6 horas da manhã, são ainda mais preocupantes, pois é quando ocorre a inversão térmica: a fumaça em suspensão acaba descendo e ficando ainda mais próxima da população. As máscaras utilizadas para a proteção contra o coronavírus podem ajudar a amenizar os riscos.
“Dependendo da máscara, pode funcionar como um filtro, mas a gente não costuma ficar o dia todo com a máscara e, geralmente, durante a noite é quando as pessoas deixam de usar, pois estão em casa e este é exatamente o período mais crítico”, alerta o diretor do IMC.
Existem, atualmente, 30 sensores que coletam os dados utilizados para a medição da qualidade do ar no estado do Acre, pelo menos um em cada município. As informações são do relatório do Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambientel (Cigma) e do portal “Acre Qualidade do Ar”, realizado em cooperação com o Ministério Público e a Universidade Federal do Acre (Ufac).
Relação com as queimadas
A partir dos gráficos dos anos passados, é possível constatar que a alta concentração das partículas no ar ocorrem entre os meses de agosto a outubro, justamente quando há a estiagem e o aumento dos focos de queimadas no Acre. Segundo o relatório do Cigma, o número acumulado de focos de queimada, de janeiro até esta segunda-feira, foi de 1.239, maior do que o registrado no mesmo período de 2020, que foi de 1194 focos.
O diretor do IMC, Willian Flores, diz que é possível relacionar o aumento das queimadas no estado com o aumento de partículas no ar, mas explica que a fumaça que vemos hoje é um somatório das queimadas dentro e fora do Acre. Nesta segunda e terça-feira, por exemplo, parte da fumaça na região deve vir, provavelmente, do Sul do Pará e do Norte de Mato Grosso.
“Quando chega agosto e setembro, nós temos uma homogeneização da fumaça em toda a Amazônia. Então, como em todos lugares da Amazônia começa a queimar, a gente começa a ter essa homogeneização”, relata.
Vale destacar que as queimadas ocorrem em diversos ambientes, como pastagens, fundos de quintal, roçados e desmatamentos em geral.