Chamo a atenção para Leonardo Sakamoto por ter dito essa frase curta e simples, como convidado na bancada do Jornal da Cultura. Há quase um ano, o Movimento dos Atingidos por Barragens (e denúncias locais) avisam que estava sendo jogada água fora nas represas das hidrelétricas brasileiras. Em decisões deliberadas de baixar o nível dos reservatórios, para aumentar o valor da tarifa elétrica. Agora, toda a imprensa, inclusive a alternativa, reproduz o discurso que coloca a culpa da crise do setor elétrico no problema climático. Não foi assim que aconteceu. Há números aferíveis para se provar isso, o volume de água que saiu dos reservatórios das hidrelétricas não equivale ao número de kilowatts vendidos pelas empresas no período. Saiu muito mais água do que kilowatts. Porque as hidrelétricas jogaram água fora! Em 2020 aconteceram duas coisas, simultaneamente, choveu acima do normal e a quarentena fez despencar o consumo de energia no Brasil. Esses dois fatos fizeram diminuir o lucro das empresas do setor elétrico.
Ao abrirem as comportas para baixar o nível dos reservatórios, o lucro aumenta, pois, é necessário acionar as usinas de apoio, e as termelétricas, que pertencem às mesmas empresas. As termelétricas cobram mais caro pela mesma quantidade de energia produzida e poluem mais. A conta pelo problema climático, causado pelo desmatamento desenfreado e pela seca atual, ainda não chegou. Ela chegará no ano que vem. Essa conta que estamos pagando agora, inclusive com risco de apagão, é a conta de um crime. “As hidrelétricas soltaram água”, repitam isso, todo dia, aos quatro ventos.
Hoje, se fala nos principais editoriais em negacionismo da crise hídrica/energética. Não vamos cair nessa narrativa, de novo. Não há negacionismo algum nisso também. Há, sim, um plano em pleno curso de execução. Espero que não seja preciso mais uma CPI para compreendermos isso e combatermos essa narrativa de terror necropolítica. A conta do clima não é essa que a gente está pagando, ainda. Essa é a conta do crime. O crime de terem jogado fora a água dos reservatórios das hidrelétricas. Essas empresas que cometeram esse crime é que têm que pagar essa conta. Reestatização seria uma conversa, pra começar, não acham? Como punição por esse crime.
Beth Passos
Jornalista