Fui na semana passada, pela primeira vez, desde o início da pandemia, a uma exposição. Lamento das imagens de Alfredo Jaar. Sobre o que estava lá, sugiro a leitura deste texto (34.bienal.org.br/exposicoes/7455), eu não saberia dizer melhor. Mas digo, sem medo de errar, para quem estiver em São Paulo, que vale agendar uma visita. A montagem fica no SESC Pompéia até o comecinho de dezembro.
O que eu queria contar pra vocês é como me senti durante as poucas horas em que estivemos, as meninas e eu, na rua, com a finalidade de ver. Só ver. Não era uma emergência, uma necessidade, não era essencial que saíssemos de casa no domingo de sol paulistano – e como o clima dessa cidade tem sido generoso por esses dias – para ir ao Sesc. Ainda assim, fomos. E talvez fosse.
Acordamos sem hora. Tomei café. Assim no singular mesmo, que esse povo não tem fome de manhã, e como eu tenho dificuldade de entender um dia que começa sem nada no estômago. Reservamos os ingressos. Tomamos banho. Pedimos um táxi. E chegamos ao Sesc.
Nesse espaço, fui ao primeiro show de uma moradora de São Paulo. Era Luiz Melodia e eu chorei como um bebê. Chorei, também com a Banda de Pífanos de Caruaru, o Hermeto Pascoal, o Cordel do Fogo Encantado e com o Caetano na choperia – ingresso a R$20, acredita?. Pensando agora, chorei em todos os shows que fui ali. Até na festa junina quando as meninas eram pequenas ainda. Tem alguma coisa nesse Sesc que me põe meio derretida.
Eu não chorei. Mas tive uma vontadezinha. Há um neon na entrada da exposição com a seguinte frase: “O velho mundo está morrendo. O novo demora a nascer. Nesse claro-escuro surgem os monstros”. As meninas tinham pulado o riozinho que corta o espaço, e o neon fazia fundo pra elas. Duas potências diante de um mundo novo que ainda não está disponível, diante da sombra dos monstros. Eu sinto medo. Quando sorriram pra mim e me convidaram também a pular o riozinho, quando riram juntas de minha falta de coragem, de minha travessia segura pela ponte, juntei ao medo fé na vida. Fé nelas. Certeza de que vai dar pé. Voltei pulando, quase antevendo a queda. Mas não caí. Os monstros estão aqui, mas, aprendo todos os dias com essas meninas – e comigo também – que a gente ainda vai acender a luz. Boa semana queridos.
Roberta D´Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu e escreve semanalmente para A Gazeta do Acre e outros 17 veículos no Brasil, Estados Unidos e Canadá.