O poder das palavras sempre foi algo em que a acreana Natasha Mesquita acreditou. Ela, que já trabalhou com plantas e com madeira, hoje se destaca como a primeira a fazer arte em porcelana no Estado, mantendo um elemento presente nos seus trabalhos passados: a magia das palavras.
Xícaras, pires, bowls, pratos e louça, no geral, são objetos comuns que, muitas vezes, passam despercebidos, no nosso dia a dia, mas, para Natasha, justamente por usarmos estes itens constantemente é que eles merecem um cuidado especial. Há três anos, ela teve o primeiro contato artístico com a porcelana e hoje busca levar mensagens de afeto, cuidado e transformação por meio do seu trabalho, que é todo feito a mão.
“Para mim, tem muito efeito você ler uma frase especial. Às vezes, você está meio pensativo, questionando-se sobre algo e, quando vê a palavra, é como se fosse uma mensagem do universo. Meu desafio é esse, mostrar que essas palavras tem esse poder, são detalhes que mudam, pois a gente está tão cheio de notícia ruim, bombardeado de tudo…”, reflete Natasha.
“É aos poucos que a vida dá certo”. Esta foi a primeira frase que ela escreveu em porcelana. Desde então, com a ajuda das redes sociais, muitas pessoas começaram a procurar pelos produtos e, atualmente, ela conta que a demanda é alta. Dessa forma, Natasha criou um estilo em que consegue trazer a força das palavras, a delicadeza do material e a sensibilidade dos traços. A empreendedora comemora ainda que as pessoas têm compreendido o trabalho e a mensagem que ela busca trazer, para além da utilidade dos objetos.
“Vejo que as pessoas estão começando a valorizar muito a mesa posta, estou vendo essa crescente, e também as frases, o pessoal gosta! Eu sempre agradeço, as pessoas estão abraçando tanto a ideia das frases de empoderamento e agora estão indo também para frases engraçadas, e eu gosto do caminho que vai tomando, a coisa vai se guiando sozinha”, comenta a artista.
Ela relata que, no início, a maioria dos clientes pedia por frases que ela criava e postava nas redes sociais, mas que, hoje, muitos já chegam com as frases próprias, o que ela considera positivo, pois essa é a ideia do projeto, que cada um escolha suas próprias mensagens diárias. Natasha é tão fiel ao seu ideal artístico que chega a evitar alguns tipos de pedidos.
“Tem frases que eu não uso, dependendo da frase, alguma coisa mais pesada, até já fiz, mas evito postar. Às vezes, me pedem só uma pintura, e eu evito também, porque eu tenho que colocar uma palavra. Eu peço para o cliente olhar e entender o que eu faço, o que eu uso, das cores, meus traços, para entender o que eu quero passar”, explica.
Um exemplo foi a pintura de uma borboleta que ela criou. Ela conta que muita gente gostou, mas ela não se contentou em deixar apenas a imagem e conseguiu desenvolver, com traços finos, as palavras “voa”, “celebra” e “simplifica”, a partir das asas das borboletas.
Outro desafio também é o material, pois tudo é vindo de fora, desde as penas, que ela utiliza para desenha e pintar, até as tintas e óleos específicos para porcelana. Felizmente, ela encontrou um fornecedor local da matéria- prima. Mesmo sendo um produto considerado mais caro, ela faz questão de sempre ter opções mais acessíveis. A variedade de cores e produtos é um diferencial e até pinceladas de ouro ela faz em suas criações.
Entretanto, seu maior “ouro” continua sendo seu ideal, que marca até o nome de seu empreendimento: “Eu evoco”, que brinca com a palavra “evocar”, no sentido de fazer com que algo sobrenatural se torne presente, como ela mesma destaca. E essa crença, vem de família…
Das palavras à porcelana e uma mãe no caminho
Tanto a porcelana quanto a crença nas palavras entraram na vida de Natasha de uma mesma forma, ou melhor, por uma mesma pessoa, sua mãe, Glads Mourão. Natasha conta que tem a lembrança de ver pequenos bilhetes espalhados pela casa, desde pequena.
“Na casa da minha mãe, sempre tinha recadinhos para ela mesma, do tipo ‘eu me amo’, ou ‘vai dar tudo certo’, então, eu cresci vendo isso, e faz muito sentido para mim”, recorda.
Quando ela começou a trabalhar com venda de plantas, ela buscou uma forma de trazer esta força. Além de fazer o plantio, Natasha também trabalhava com os jarros, começando a fazer pintura e, depois, partindo para as frases. Ela também explicava o significado de cada planta, o lado místico e científico de ter aquele ser dentro ou fora de casa. “Para mim, eu nunca ia largar as plantas…”, ela recorda.
Até que, mais uma vez, a mãe plantou uma nova semente na filha, neste caso, a da porcelana. Natasha conta que Glads tinha acabado de fazer um curso de cerâmica, em Fortaleza, onde também teve contato com o material, e voltou certa de que seria o trabalho certo para a filha, que, por sua vez, não aceitou de imediato.
“Ela ficou insistindo, e eu não queria. Até que um dia, ela preparou uma mesa com todo o material, ela já tinha comprado as porcelanas, trazido todo o material da viagem e disse: ‘está tudo prontinho, só tenta’. Eu comecei e, na mesma hora, gostei muito. Mãe sempre conhece a gente, né?!”, relata a artista.
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