O químico Lavozier já dizia que na natureza nada se cria, tudo se transforma. Para a artista visual Rosilene Nobre, que desenvolve uma pesquisa de pigmentações naturais para o tingimento de tecidos, o pensamento é o mesmo. Na mais recente divulgação de seus experimentos, em outubro, ela apresenta como criou corantes orgânicos a partir de matérias primas como o açaí, o crajiru e até a casca da árvore do cupuaçu.
Acreana de Tarauacá, Rosilene criou um álbum artesanal com amostras e a “receita” de suas composições. Após quase nove meses de pesquisa, “Retalho em Cores” é resultado de um projeto aprovado pela Fundação Garibald Brasil, com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. No trabalho, a artista usou tanto pigmentos conhecidos (flores, jenipapo, açafrão da terra,etc) quanto novos produtos, que é o caso da casca do cupuaçuzeiro.
“Foi a primeira vez que usei a casca do cupuaçu e, para mim, foi inusitado saber que ele tem uma fixação boa, que nem precisa de mordente. Sem contar que a cor dele é muito bonita e teve uma resistência muito boa no tecido algodão cru. Nas pesquisas que fiz, não encontrei nenhuma referência sobre isso, então é algo que quero continuar estudando”, comemora a artista.
As sementes desidratadas do açaí, assim como a casca do Jatobá foram outras matérias primas que serviram para criação de corantes. Nos seus resultados, Rosilene fornece todos os detalhes do processo e pesquisa, como quais materiais servem ou não para fixar as cores no tecido, o tipo de fixador, o mordente, o mapeamento da planta, como ela foi utilizada e o processo de tintura.
O tecido de algodão cru foi o material que ela escolheu para desenvolver seus experimentos que não vão parar tão cedo, uma vez que as cores podem se modificar com o decorrer do tempo. Alterações que ela só poderá constatar daqui alguns anos. A pigmentação em tecidos é uma técnica antiga, mas a artista defende o resgate dos corantes naturais, que acabaram esquecidos com o surgimento dos pigmentos sintéticos, geradores de fortes impactos ambientais.
“Espero que outras pessoas possam continuar fazendo roupas ou materiais artísticos usando esses elementos. É um processo demorado, cansativo, mas prazeroso porque ele te surpreende. Dependendo do fixador que você coloca, do modificador, do cozimento, do tipo do tacho, do clima, tudo isso modifica o resultado”, explica a acreana.
O resultado do trabalho da artista visual pode ser conferido no álbum e por meio de um vídeo artístico publicado no YouTube que apresenta o processo de coleta, catalogação, feitura e amostra tingidas.
Do papel para o tecido
Com especialização em artes visuais, Rosilene começou a pesquisar pigmentações em papel, em 2006, com aquarela e giz natural de argila. Os estudos geraram uma exposição artística com os resultados, dez anos depois. Desde então, seu interesse nos pigmentos permaneceu, mas ganhou uma nova base: o tecido.
“Apesar de já estudar desde 2006, agora com o tecido é como se eu estivesse partindo do zero. É a mesma matéria prima, mas outro processo”, relata a artista.