Era maio de 2005, quando Francileude Alves Figueiredo decidiu ir contra todos os seus medos e mudar de país. Ela saiu de Rio Branco, no Acre, e foi morar em Portugal, em busca de novas oportunidades de trabalho, após esgotar todas as possibilidades que podia em sua terra natal.
Como uma boa acreana do pé rachado, como dizem os locais sobre os legítimos acreanos nascidos na terra de Chico Mendes, ela não poupou esforços para fazer dar certo sua nova vida. Mas, o que impulsiona alguém a abandonar a própria terra e deixar tudo para trás? Foi com dor no coração, diz ela, que resolveu deixar não só o Acre, mas o Brasil, em um momento de extrema dificuldade, resultado de uma vida solitária no comando do lar e da falta de conhecimento sobre finanças.
Diferente das gerações anteriores, hoje, a revolução está na palma da mão, um privilégio que muitos não tiveram chance de experimentar, e a educação financeira que faltou a Francileude, ao longo da vida, e a muitos da sua geração, atualmente, está ao alcance de todos.
“Eu saí do Brasil, em maio de 2005, em uma fase muito difícil, em que eu não enxergava opções. Já tinha tentado de tudo, até vendia doces na rua pra sustentar minhas duas filhas. Naquela época, nem se falava em investimentos, e o máximo que eu conhecia era a poupança, mas, mesmo assim, não conseguia poupar nada. Era uma vida de muita dificuldade, porque era só eu e as minhas filhas, uma de 17 anos e outra de 14. Não tinha ideia de que tinha tantas opções como existem hoje no Brasil e, talvez, se eu tivesse acesso à educação financeira, agora eu estivesse com muito mais qualidade de vida e ainda no meu país”, relembra ela.
“Hoje, eu já sei o que é investir de verdade, e meu dinheiro não fica mais parado. Eu aplico [o dinheiro] através de banco digital, mas antes eu era meio desconfiada. ‘Como que a gente põe dinheiro num aplicativo assim tão fácil e ainda rende?’, eu pensava. Mas, a minha filha me ensinou e eu coloquei na fé”, conta ela, que está construindo seu patrimônio e sonha em voltar para o Brasil.
Por que é tão urgente investir?
Um sentimento comum a muitos investidores é a vontade de voltar no tempo para aproveitar as oportunidades, e não é clichê dizer que o tempo é o maior aliado do investidor, porque, de fato, ele é.
Para os moradores do Acre, o tempo se torna ainda mais urgente, visto que o Estado apresenta, com frequência, uma das maiores inflações do país. O que significa dizer que é mais caro viver aqui do que em qualquer outra parte do Brasil. Felizmente, graças ao acesso à informação, proporcionado pela tecnologia, e ao trabalho de influenciadores digitais ocorreu o aumento do número de investidores locais, e não é mais coisa de outro mundo encontrar pessoas que investem.
Um estudo da Bolsa de Valores do Brasil (B3), por exemplo, aponta que o número de investidores, na região Norte, cresceu 575%, de 2018 até junho de 2021, o que representa um aumento muito mais expressivo se comparado às demais regiões do Brasil.
Administrando dinheiro em um clique
Hoje, é possível colocar seu dinheiro pra render a partir de apenas R$ 1, e isso traz uma grande vantagem para o investidor do Acre que, sobrevivendo apesar da alta da inflação, já está aprendendo, na prática, que investir é urgente e é para todo mundo. E é aí que entram os bancos digitais.
Ainda vistos com desconfiança por uma pequena parcela da população, assim como os “bancões”, os digitais também trabalham com o aval do Banco Central, por isso, eles são tão seguros quanto os bancos tradicionais, mas com uma vantagem em destaque: são completamente sem burocracia. Então, nada de estresse, papelada e longas filas, em pleno sol de meio-dia, para resolver algo que poderia ser solucionado de forma muito simples no conforto de casa. Tudo o que você precisa é de um aparelho celular com acesso à internet.
Por isso, abrir conta em um banco digital pode ser um ótimo caminho para iniciar sua trajetória no universo dos investimentos, pois ainda é um dos recursos mais fáceis para se formar uma “Reserva de Emergência”, meta inicial para todos os investidores, que, como o próprio nome já diz, garante aquele dinheiro guardado para situações de emergências. Algo que a professora de espanhol Hellem Ramos, de 35 anos, está aprendendo aos poucos.
“Sempre admirei quem tinha investimentos, sabia como investir… Até que, um dia, em uma visita de uma prima em minha casa, falamos sobre vários assuntos, inclusive finanças, e ela me deu algumas dicas sobre conta digital, investimento, e isso me motivou a buscar informações, e aos poucos começar também. Desde então, mudou muito a minha forma de pensar, de ver o dinheiro, possibilidades de ganho e, ao mesmo tempo, tentar evitar desperdícios e consumir com mais consciência. O mais difícil no início foi a insegurança sobre como e onde investir e conseguir separar dinheiro para fazer as aplicações”, relata Hellem.
Mãe de Emanuely, de 5 anos, Hellem acredita, pela própria experiência, que investir é uma questão urgente para todos os cidadãos.
“Acredito que todos devem começar seus investimentos, abrir a mente para o novo e para os benefícios que isso pode trazer, ainda mais se você mora na região Norte, porque aqui tudo é mais caro por causa da logística, muito diferente das outras regiões do Brasil. Eu acho que é urgente sim, e é por isso que, hoje, eu penso que minha filha precisa ter algo no futuro, e isso precisa começar a ser construído logo. Quero que ela tenha um amanhã melhor do que eu tive quando fiquei sem meus pais [falecidos há cerca de 11 anos]. Pretendo ensiná-la a investir seu dinheiro com sabedoria para que ela usufrua do que vai chegar em suas mãos da melhor maneira possível”, planeja a professora.
Diferente do investidor na faixa etária dos 30 anos ou mais, que já possui mais consciência sobre seus objetivos, a estudante Valéria Amorim, de 19 anos, usa o tempo a seu favor e já sonha com as grandes conquistas que irá realizar ao começar a investir ainda jovem.
“Graças a Deus, este ano, eu consegui meu primeiro emprego formal e já sei que preciso criar a minha Reserva de Emergência, que eu creio que seja uma quantia de dinheiro reservado para qualquer imprevisto que possa aparecer no nosso dia a dia. Por isso, eu estou me organizando financeiramente pra ter dinheiro suficiente pra realizar os meus sonhos, no futuro próximo. Quero muito viajar em 2022 e adquirir meu carro também. Hoje, eu já tenho conta em banco digital, e eu acho que é uma ferramenta muito boa, porque quebra fronteiras mesmo. Diferente das pessoas mais velhas, que não tiveram acesso a essa ferramenta até pouco tempo, a gente já, praticamente, nasceu com o telefone na mão, então é muito mais fácil. Recomendo muito”.
Políticas públicas
Para quebrar este ciclo de desconhecimento, a população do Acre conta com iniciativas nacionais que alcançam o público local, como é o caso do programa Aprender Valor, voltado para estudantes do Ensino Fundamental, do Banco Central.
A iniciativa visa levar Educação Financeira e Educação para o Consumo a milhões de estudantes e professores das escolas públicas brasileiras, incentivando os estudantes a desenvolverem uma relação focada, sustentável e consciente com o uso do seu próprio dinheiro, desde a infância. Paralelo a isso, a capital acreana conta com, ao menos, com duas leis que também visam o acesso de pessoas a este conhecimento: a Semana Municipal de Educação Financeira, realizada paralelo à programação nacional de mesmo nome, e a Lei municipal que institui o ensino da Educação Financeira nas escolas.