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“Eles sabiam que a criança era inocente”, revela delegado sobre os últimos presos suspeitos de matar menor julgado pelo ‘tribunal do crime’

Crime aconteceu em agosto deste ano, na cidade de Feijó. 14 pessoas foram presas.

Com mais duas prisões nesta semana, as investigações sobre o cruel assassinato de José Evlair, de 14 anos, está chegando ao fim e novos detalhes são revelados. A Polícia Civil prendeu os dois últimos suspeitos pela execução do adolescente que foi condenado pelo “tribunal” de uma facção criminosa, na cidade de Feijó, em agosto deste ano. Um homem de 19 anos foi preso na quarta-feira,24, e outro, de 23 anos, foi preso no último domingo,21. De acordo com as investigações, quatro homens seriam os responsáveis de executar a vítima com, pelo menos, 15 golpes de terçado.

O corpo de José Evlair foi encontrado em uma cova rasa no dia 22 de agosto. Ele foi julgado por uma facção após sua tia e madrasta o acusarem de abusar sexualmente da sua prima de cinco anos de idade. O adolescente foi levado a vários lugares, na cidade de Feijó, até ser condenado a morte. A vítima foi encontrada sem os olhos e várias marcas de agressão. Segundo o delegado Railsson Ferreira, responsável pelo caso, os últimos presos confessaram o crime

José Evlair foi levado pela tia pela madrasta ao tribunal de facção criminosa.

Ele conta que um dos presos pela morte de Evlair foi encomendada pela própria tia. Outro preso falou sobre o momento do assassinato: “O penúltimo preso desferiu os dois primeiros golpes no pescoço, e o antepenúltimo deu cerca de três a quatro golpes também no pescoço. A criança gritou e morreu no segundo golpe. Eles sabiam que ela era inocente, mas o conselho já tinha determinado a morte e eles tinham que cumprir” relata o delegado.

Em outubro foram presos um homem de 19 anos e outro de 20, também suspeitos de participarem da execução do adolescente. Este último já havia sido condenado por outro homicídio. Ao todo, 14 pessoas estão presas preventivamente, sendo dez envolvidas no julgamento, entre elas a tia e a madrasta de José, e quatro na execução. O delegado afirma que não restam mais prisões de envolvidos no crime e que agora só aguardam pelas perícias dos celulares apreendidos para comprovar a movimentação e localização dos suspeitos no dia do crime.

Os últimos quatro presos devem responder por homicídio qualificado, omissão de cadáver e por integrar uma organização criminosa. “É um caso que causa grande aflição, pois o menor foi morto de forma cruel, sendo levado para um lugar desconhecido, morto sem a mínima chance de defesa, além de sempre repetir que era inocente, mas os criminosos não tiveram piedade das súplicas do menor”, lamentou Railson Ferreira.

A prima do adolescente ainda não passou por exames médicos, pois estava abalada com a situação. Mas Ferreira acredita que nesta semana ela começa a ser ouvida por psicólogos. Ele acredita que José Evlair não estuprou a criança. “Ouvindo as pessoas, ninguém disse que a criança foi estuprada, apenas a mãe dela. Acredito que ele ejaculou na frente dela, mas não ouve penetração, pois não teve sangue ou ferimento”, explica.

Sobre o caso

De acordo com as investigações da polícia, a tia e a madrasta de José informaram que ele teria abusado a prima no dia 18 de agosto e logo levaram o caso para o ‘tribunal do crime’ da facção da qual fazem parte.

A morte ocorreu no dia seguinte, após várias reuniões que definiriam o que seria feito com o adolescente.

No domingo,22, por volta das 12h, o corpo foi encontrado, já em estado de decomposição, em uma vala rasa. O corpo foi levado para a perícia, na cidade de Cruzeiro do Sul.

Ainda no mesmo dia, a Polícia Civil prendeu cinco pessoas suspeitas pelo envolvimento no caso, dentre elas a tia e madrasta da vítima que confessaram a situação em depoimento. Os crimes cometidos pelos presos vão desde de organização criminosa, ocultação de cadáver, homicídio qualificado e formação de quadrilha.

José Evlair Araújo chegou a ser levado por mais de seis lugares antes de ser assassinado. Durante este percurso ele teria passado pelo julgamento de vários integrantes da facção, até a decisão de sua morte, no mesmo dia.

“Em todos esses trajetos, teve conversas entre o adolescente, as pessoas que estavam com ele os ‘conselheiros’ de forma virtual. Ele passou por várias e várias reuniões e foi muito violentado, até os olhos dele arrancaram”, relata o delegado Railsson Ferreira.

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