Para Zygmunt Bauman
A fluidez contínua dos tempos modernos
Verões, primaveras, outonos, invernos
Pouquíssimos sentimentos são ternos
A velocidade do vento é a mesma do amor.
O tempo se fez melífluo, fluído, escorregadio
Há pressa nas trocas que agora estão por um fio
Quente é o corpo, mas o espírito é frio, vadio
Vive-se o desalento; não é minha a tua dor.
Os tempos se fizeram lúgubres, bicudos
Gritos, silvos, lancinantes, breves, agudos
Relações de alma que agora portam escudos
Foi-se embora o suspiro e a singeleza da flor.
Rastreios feitos através do bom uso do faro
O afeto não ocorre e quando ocorre é raro
O amor está sempre e cada vez mais caro
E a vida, pela hora da morte, ou por um triz.
(PRIMAVERA DE 2021)