Essa semana, parei de acompanhar gente querida, mas não tão próxima, no instagram. Gosto de vê-los vez por outra pela cidade, na fila da padaria, de sair pra tomar um café aqui e ali, gosto de saber notícias suas, torço para que coisas lindas lhes aconteçam. Mas não me sinto íntima o suficiente para testemunhar seus despertares de manhã cedo, saber o que pensam sobre cada notícia, tanta notícia, saber das músicas que estão escutando hoje, uma, duas, três, as que escutaram durante o ano. Ui, é muita coisa, não?
Segundo o relatório Digital Overview de 2020, o brasileiro investe uma média de três horas e trinta minutos por dia entre o Instagram, o Tik Tok, o Twitter e o Facebook. Para além de pensar sobre a quantidade de horas (que por si merece atenção, claro), me interessa – e sempre, sobre qualquer coisa – pensar a escolha. O que cada um escolhe mostrar é da ordem da liberdade, não cabe crítica. Mas e nós, que estamos dedicando esse pedação da vida às redes, o que escolhemos ver nelas?
Dizendo assim parece fácil, quase óbvio. Mas escolhas, minha gente, incomodam. Pois que um desses amigos, um amor de pessoa, mas pouquíssimo íntimo – nos encontramos quatro vezes na vida, pra vocês terem uma ideia – chateou-se grandemente com o unfollow. Segundo me contou uma outra amiga, postou reclamação no próprio instagram, citou Bauman e suas relações líquidas, disse de um possível apagamento do outro e me pôs a pensar aqui.
Primeiro nos símbolos. Teria sido melhor silenciá-lo? Para poupar a sensação de rejeição? Não seguir alguém no instagram é rejeitar? É apagá-lo de sua vida? Não minha gente. Esse movimento da surdina é que sinaliza o novo tempo. É ele o simbólico. Tanto o silenciar, quanto o tomar o ambiente virtual pela vida como um todo.
Depois, na ambivalência. Imersa nesse pensamento, fiz uma maratona de vídeos da Manuela Xavier (uma das que escolhi manter no feed) no domingo. Com ela, ficou ainda mais nítida a dificuldade que temos em reconhecer o desejo autônomo do outro e o contorno (os limites) que cada um estabelece pra si. A dificuldade de entender que o gostar não é absoluto, não é dedicação exclusiva e eterna. É possível gostar, bastante inclusive, de alguém e não estar disposta a ‘seguir’ cada passinho seu. Não estar 100% colado não é sinal de apagamento.
Não silenciem. Cada um diz (e mostra) o que quer. É importante que seja assim. Mas escolham. Experimentem; a Manuela, por exemplo, ou quem mais lhes despertar um desejo de escuta. Nosso desejo é joia preciosa, e nosso tempo – por que não? – também. Ao meu amigo magoado, mando um beijo grande e a lembrança: engajamento no instagram não é prova de afeto, você não é somente as legendas espertas e os pixels coloridos na tela do meu celular. Boa semana, queridos.
Roberta D´Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu e escreve semanalmente para A Gazeta do Acre e outros 17 veículos no Brasil, Estados Unidos e Canadá.