X

“A gente precisa, de fato, assumir essa luta” declara filha de Chico Mendes sobre questão ambiental, 33 anos após a morte do pai

Capa do jornal A Gazeta do do dia 23 de dezembro de 1988. (Foto: Acervo A Gazeta do Acre)

“Chico Mendes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri morreu ontem numa tocaia, com tiro de espingarda no peito direito”. Assim começava a manchete principal do jornal impresso A Gazeta, do dia 23 de dezembro de 1988. Em 2021, ano em que fazem 33 anos desde que ele morreu, Chico Mendes teria completado 77 anos de idade. Conversamos com Ângela Mendes, sobre o legado de seu pai e o atual cenário ambiental.

Nascido na cidade de Xapuri, Francisco Alves Mendes Filho  era filho de um migrante nordestino que se tornou seringueiro no Acre. Desde pequeno ele acompanhou o pai no ofício que logo virou também o seu. Chico Mendes lutou a favor dos seringueiros e da preservação da floresta,  foi sindicalista, ativista político e ambientalista brasileiro. O acreano chegou a ser reconhecido mundialmente pelo seu ativismo recebendo o prêmio Global 500 da Organização das Nações Unidas (Onu).

Após todos esses anos, sua filha mais velha, Ângela Mendes, se orgulha ao perceber a visão “antecipatória” que seu pai tinha sobre o mundo e o meio ambiente ainda naquela época. “Quando a gente percebe que, por exemplo, o mundo seu reuniu em Glasgow, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP 26), preocupado com a crise climática, e a gente sabe que a crise é um resultado de vários fatores, mas que os principais são o desmatamento, as queimadas, emissão de gases de efeito estufa… Lembro que meu pai já alertava para isso, sempre defendeu a importância da floresta em pé”, reflete.

Ângela Mendes, coordenadora do Comitê Chico Mendes, e filha mais velha de Chico. (Foto: @aadutr.a)

Ângela, que também é coordenadora do Comitê Chico Mendes, reflete sobre o legado que seu pai deixou e acredita que todos seus atos valeram a pena, mas percebe, também, que o momento requer mais comprometimento para dar continuidade à luta com a mesma força de antes.

“O que a gente precisa hoje é assumir a nossa parte de responsabilidade, para fazer com que de fato tudo isso tenha valido a pena. Ele lutou, ele morreu, mas só vai ter valido a pena se a gente assumir também o compromisso, essa responsabilidade, na mesma luta, na mesma sintonia e no mesmo sentimento de solidariedade e reciprocidade”, comenta Ângela.

Com relação ao atual momento político e ambiental, Ângela reconhece os retrocessos e perdas, mas também encontra pontos positivos que surgiram neste período.

Chico Mendes (Foto: Adrian Cowell. Acervo CSBH/FPA)

“A gente sabe que falta muito para consolidar o modelo de territórios  sonhado pelo meu pai. O que esse governo atual tem feito realmente tem feito com que a gente dê muitos passos para trás. Mas acho que uma coisa tem sido positiva nisso, que  agente tem consegui mobilizar e sensibilizar esses atores sociais que tem entendido que a gente precisa estar unidos, fortalecer essa alinça, nos reconectar para poder resistir a esse cenário”, afirma.

Ela cita ainda a participação relevante e destaque de Txai Suruí na COP 26. Para Ângela, a indígena de Rondônia, de 24 anos, traz muita representatividade em sua imagem, história e discurso e reforça a participação dos jovens na luta ambiental.

“Acho que a gente está se fortalecendo enquanto coletivo, enquanto seres, sujeitos que estão nesse planeta e que tem se posicionado, principalmente a juventude. Acho que minha esperança muito é por isso, a juventude tem se movimentado, mobilizado muito”, comemora.

Na atividade “Legado de Luz”, foram compartilhadas histórias da vida do líder seringueiro e ambiental, na Semana Chico Mendes 2021 (Foto: @crhistyannritse)

Semana Chico Mendes 2021

A data de 22 de dezembro de 2021 marca ainda o término da Semana Chico Mendes 2021, iniciada no dia 15 deste mês, em Xapuri. No último dia, foi realizado um encontro de lideranças e um Ato Ecumênico na Colocação Fazendinha onde foi discutido o atual cenário de ameaça e de intenso desmatamento da Amazônia.

O evento contou com a participação tanto de brasileiros quanto de pessoas de outros países. Estiveram presentes representantes de populações tradicionais, ribeirinhas, extrativas, quilombolas e dos povos originários.

“Achamos que foi uma semana muito rica, do ponto de vista da participação, do ponto de vista da discussão política . Fizemos um carta, que é uma carta política que coloca nosso posicionamento e o posicionamento do conjunto desses atores sociais que participaram da Semana Chico Mendes, na sua firme disposição de manter e defender o legado de Chico”, afirma Ângela.

Semana Chico Mendes 2021 foi realizada de 15 a 22 de dezembro, em Xapuri. (Foto: aadutr.a)

 

Leia também: Justiça Federal suspende contratação de empresa que faria estudos sobre estrada que ligaria Cruzeiro do Sul a Pucallpa, no Peru

Daniel Scarcello: