Perplexa constatei que há 100 anos o mundo vivenciava exatamente o mesmo clima de guerra e pandemia, decidi me aventurar na causa feminina, já que dia 8 é o Dia Internacional da Mulher. Nas recentes pesquisas logo percebi que reduziram a data a Mariele Franco, Dilma Roussef e para disfarçar Rosa de Luxemburgo, e algumas merecidamente dignas de registro.
Girei a cadeira pensando em outro tema. Música, comportamento, filme, poesia, tema da atualidade, ou seja, guerra ou pandemia, crônica, ironia… “Unidunitê o escolhido foi” FILME ANTIGO.
É curioso ver os filmes mais recentes das franquias icônicas de Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone, dois nomes-chave do gênero “ação” da década de 80, e notar suas similaridades e diferenças. Estou falando, claro, de O Exterminador do Futuro 6 e Rambo 5. Em ambos os filmes, os personagens de Schwarzenegger e Stallone são encarregados (sozinhos ou acompanhados) de proteger jovens latinas.
No entanto, se Stallone se entrega ao gore absoluto movido por racismo e jingoísmo, Schwarzenegger vai na direção contrária: O Exterminador 6 é um filme com mentalidade contemporânea, que compreende a importância da diversidade e o conceito de empoderamento feminino; Rambo 5, por outro lado, demonstra que, ao menos nesta franquia, Stallone parou no tempo, enxergando as mulheres como donzelas sob a tutela de machões. (E digo isso mesmo tendo grande afeto por Stallone e considerando-o um ator bem mais talentoso do que muitos acreditam, e seu trabalho no primeiro Rambo, por exemplo, é um primor não só de fisicalidade, mas de frustração e dor (aliás, é um filmaço). É interessante também notar como a fronteira México-EUA é vista em O Exterminador 6 e Rambo 5: no primeiro, a imigração norte-americana é vista como bárbara, desumana; no segundo, a cerca trumpiana é retratada como símbolo de segurança contra a selvageria latina.
Analisar os dois filmes é perceber um contraste de visão de mundo, de ideologias. É ver a política num significante de ação e constatar como a Arte, de modo direto ou indireto, sempre acaba por retratar o mundo ao seu redor de acordo com a visão de seu realizador. E é por isso que tentar eliminar a discussão política da Arte não só é um exercício de futilidade, mas também algo estúpido. Perceber como O Exterminador 6 e Rambo 5 nos fazem enxergar (ou tentam) seus personagens mexicanos não é negar a “diversão”; é vê-la como parte de um todo. Analisar o conteúdo ideológico no subtexto de um filme de gênero não significa ser “incapaz de se divertir”; significa apenas que somos seres pensantes e podemos processar a Arte em diferentes níveis simultâneos – como entretenimento e como discurso. E a experiência se torna muito mais rica e interessante assim.
Beth Passos
Jornalista