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Brainstorm

O episódio de prisão envolvendo o jogador brasileiro Daniel Alves me fez buscar um artigo que escrevi, mas não publiquei pela enorme demanda de notícias no período da Copa do Mundo e como sou assumidamente fã do bom futebol experimentei um verdadeiro brainstorm em minhas colunas e redes sociais.
Richarlison após a derrota chorou muito e disse que a vontade dele era “entrar em um buraco e sumir”. Depois escreveu um texto muito comovente sobre a frustração da derrota e agradecendo a torcida pelo apoio. Fiquei ainda mais admirada pelo jogador.

Curiosamente, na matéria que falava sobre a reação de Richarlison um tanto de gente comentou “que falta faz uma terapia”, “quê isso, bola pra frente”. Como se fosse anormal uma pessoa demonstrar sofrimento intenso IMEDIATAMENTE após uma derrota em uma oportunidade que só acontece a cada 4 anos, e que talvez não se repita para ele. Como se sua tristeza (tão natural diante de algo de fato triste) fosse doentia.

Claro que Richarlison levantou a cabeça e seguiu com a carreira. Espero que com cada vez mais sucesso. Mas não dava para respeitar que ele tivesse nem 24 horas de luto? A nossa sociedade se desacostumou tanto assim de ver alguém famoso sofrer publicamente?

Claro também que TODOS os jogadores deveriam receber acompanhamento psicológico. Especialmente os reservas que quando tem a chance de jogar se esquecem da equipe e dos combinados táticos e tentam destrangoladamente brilhar de forma individual – prejudicando a todos, com raras exceções.

Mas trago novamente o questionamento que fiz. Não estariam as pessoas mais emocionalmente adoecidas por forçar palavras positivas no instante seguinte à derrota?

A declaração de Daniel Alves foi uma aberração narcisista. Alerta de gatlho visível de quem deixa sujeira embaixo do tapete.
Logo após a derrota ele achou de dizer que ele mesmo é “o maior vencedor da história desse esporte”. Oi? Helloooô? Fora o suco de clichê: “Chorar é parte do processo, mas sorrir é o que faz com que lembremos de que todo sacrifício valeu a pena”.

O Rodrygo Goes (que errou o pênalti!!!) escreveu: “‘Apenas mentes brilhantes passam por certas provações’ com certeza comigo não seria diferente, 21 anos, nada foi fácil até aqui e nem vai ser, mas valerá a pena!”.

O que será que eles estavam falando que “vai valer/ valeu a pena”? Isso enquanto deixaram o campeonato que eles PERDERAM. Qual o sentido dessa expressão nesse contexto?

Qual o nexo de se auto elogiar de forma tão eloquente justo num momento ruim daquele? Que atitude imbecil!

Neste sentido a maioria das pessoas gosta dessas mensagens triunfantes sem conexão com a realidade do momento.

Richarlison foi um dos poucos que soube expressar emoções humanas naquela equipe. Não digo que é o único que sentiu. Coração dos outros é terra que ninguém vai, não podemos afirmar sobre os sentimentos de outra pessoa. Mas usar as palavras para nomear corretamente a amargura natural pós-derrota, isso ele sabe. Até nisso o Pombo se destacou.

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