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‘Deus nos dá diversas formas de senti-lo’, diz mãe de santo vítima intolerância religiosa no Acre

Foto: Narjara Saab

Quase um ano após ter sido vítima de ataques virtuais de racismo religioso, a sacerdotisa da Tenda de Umbanda Luz da Vida, Mãe Marajoana de Xangô [Francisca Marajoana Maia], 40 anos, ainda luta na justiça para que os principais propagadores da agressão sejam punidos com o vigor da lei.

Em maio de 2022, a dirigente espiritual viu um vídeo seu ser utilizado fora de contexto, por pastores evangélicos de vários estados do país, que usaram a imagem para propagar fake news e intolerância religiosa.

“Vivenciar na pele a intolerância e o racismo religioso, machuca. Porque a gente vem com essa busca de transformar, na qual as religiões deveriam fazer essa ponte, essa integração. E essa violência causa danos, quando você vai ao mercado e as pessoas te olham de maneira diferente, pois fui chamada de ‘trevas’, ‘anticristo’. Eu tenho filho, que ainda é uma criança e tem que lidar com isso na escola”, conta Marajoana.

A imagem da sacerdotisa umbandista de mãos dadas com um pastor evangélico e uma padre gerou várias reações na internet. Foto: Cedida

A imagem da sacerdotisa umbandista de mãos dadas com um pastor evangélico e uma padre gerou várias reações na internet. “Ao mesmo tempo que foi positivo, muita gente parabenizando pela atitude, também recebi ameaças, fui colocada em grupos de whatsapp para ser xingada e ameaçada”, revela.

À época, a dirigente espiritual fez a denúncia do caso na Defensoria Pública do Estado do Acre (DEP), Ministério Público do Estado (MPE) e, por orientação dos órgãos, prestou dois boletins de ocorrência. Apesar das provas, com vídeos das declarações preconceituosas e mensagens de apologia ao crime, até hoje nada foi resolvido. Em julho do ano passado, Mãe Marajoana de Xangô foi convidada, por indicação do Instituto Mulheres da Amazônia (IMA), para palestrar no Fórum Social Panamazônico (Fospa), promovido no Pará, onde também reforçou a denúncia.

Neste sábado, 21, é celebrado o Dia Mundial da Religião e o Dia Internacional da Luta contra a Intolerância Religiosa. Questionada sobre qual mensagem deixaria ás pessoas, a mãe de santo é enfática.

“Amor. O amor ágape, que é o amor de Deus, não olha gênero, raça, etnia ou sexualidade. Deus é uma imensidão, e a energia de Deus é tão maravilhosa que ele nos dá diversidades formas de chegar a ele. E Ele [Deus] não é no templo religioso, não é em um papel, como as pessoas tanto colocam. A gente encontra Ele dentro da gente”, afirmou Mãe Marajoana de Xangô.

Em dezembro de 2022, a sacerdotisa foi condecorada com o Título de Cidadã Rio-branquense. Foi a primeira vez que uma Mãe de Santo foi homenageada com a honraria na capital acreana. “O conhecimento liberta, por isso, na Tenda fazemos um trabalho voltado para a desmistificação da Umbanda. Porque preconceito é falta de conhecimento e basta que a pessoa se permita enxergar e respeitar o próximo, que tudo se transforma”.

Marajoana recebendo a honraria da vereadora Lene Petecão (Foto: Dell Pinheiro)

 

 

 

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Maria Meirelles: