Duas jovens médicas gravaram um vídeo debochando de uma criança que chorava alto (porque foi ATINGIDA POR UM RAIO!), enquanto esperava atendimento em um hospital no Amazonas. No vídeo, uma delas pergunta, rindo para outra colega se é ela quem vai “suturar” e a amiga responde que ia “exorcizar” a criança.
O horrível dessa história nem é o dialogo debochado e insensível. Qualquer um de nós pode falar coisas do tipo. Só que em casa, com alguém de nossa intimidade, ao retornar do trabalho. Dizer, por exemplo, “putz, hoje atendi um menino que foi atingido por um raio, o bichim gritava tão alto e desesperado que pensei que ia ter é que exorcizar a criatura, haha, eita, eita, tô até com dor de cabeça”.
Ok, tudo bem dizer umas coisas ácidas assim longe dos zôto.Mas a bonita sacou o celular para ela e a amiga se filmarem DENTRO do hospital. Fazendo caras e bocas e gestos afetados totalmente incompatíveis com o espaço. ATRASANDO o atendimento para se dedicarem a uma inutilidade. E, pior, EXPONDO o som de uma criança em sofrimento. Uma delas postou isso na internet!
Diante desse tipo de notícia sempre tem alguém que mistura as coisas e vem com um, “nossa, mas hoje em dia não se pode falar mais nada, qualquer brincadeira é crime”. O que essas duas fizeram não foi “uma brincadeira infeliz”. Mas uma ação totalmente inadequada e até cruel, no local de trabalho; e filmada, expondo uma criança que necessitava ser acolhida naquele momento.
Como é que se faz para explicar para geração Z que não é ético tiktoquear em alguns ambientes de trabalho?Que necessidade é essa de aparecer a qualquer custo, mesmo em cima da desgraça alheia? E o juramento de Hipócrates?Será que tudo é mesmo publicável? Qual o limite entre o frescor da intimidade e os dissabores da publicidade? Qual a razão da superexposição? Que geração de profissionais insensíveis e deprimentes é essa?
Beth Passos
Jornalista