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Os limites do conhecimento

Os antigos contemplavam o tempo que passava encadeado e sucessivo, por assim dizer linearmente, o aprisionamento do tempo dava aos filósofos a sensação de um cosmo que se fechava no espaço. O destino impunha a ordem já que a liberdade se colocava de fora para assumir o ponto de vista teórico, que se coloca de cima e de longe das atribulações, dá para imaginar o olho impassível e cálido.

Descartes rompeu o cosmo antigo para libertar o pensamento, o tempo tornou-se infinito. Kant pensou que poderíamos nos perder e impôs limites ao entendimento, até o século XVIII, o infinito era uma abertura e as partidas deixavam a saudade que era vivida como sofrimento.
Foi Goethe quem tirou as consequências da Revolução Francesa, ele levou o sofrimento para dentro do peito e transformou o infinito para convertê-lo em um abismo. As viagens poderiam não ter volta, não era já o desespero porque a loucura ainda trazia alguma poesia. A modernidade, no entanto viu o tempo em seu sentido ascensional, as aspirações recolhiam-se num espaço de esperança, as apostas colocaram em jogo a vida do espírito; sem abandonar o ponto de vista que se mantém fixado.

Os planos se voltaram para o mundo e descobrimos o outro com quem podíamos falar e ser compreendido, estava lançado o desafio. Tobias Barreto entendeu que não bastava existir, a questão é desenvolver-se, uma vez que o tempo se libertou e o homem passou a interpretar o sentido com liberdade. As experiências foram sendo vivenciadas de dentro e a experimentação que via tudo de perto começou a misturar os contrários que pareciam incomunicáveis. As afinidades que aproximam ao mesmo tempo distanciam, dado que ficamos mais sensíveis percebemos as contradições muito vivas, os olhos conseguiram ver os nervos e aguçaram-se. Nietzsche descobriu o sexto sentido, o sentido histórico que deu ao tempo a capacidade de voltar para ir além do homem satisfeito consigo mesmo.
Marx pensou que o desenvolvimento de um fosse a condição para o desenvolvimento de todos, o fato é que a utopia se rendeu ao niilismo e o nada virou o vazio mais desesperador.
Para acompanhar o desenvolvimento desfizemos as ilusões e apontamos o outro para reavê-lo, tomando-o em sua individualidade podemos compreender a relação desafiadora entre o desenvolvimento de um e de outro.
Um dos aspectos da lei desenvolvimental afirma que o tempo é livre a tal ponto que os avanços dão ao progresso complexidade realística. Antigamente se acreditou numa espécie de linearidade que deixa à especulação a capacidade dedutiva, de simplesmente imaginar servindo-se única e exclusivamente da lógica.

Agora somos livres para criar, não fazemos despontar os talentos sem as condições de realização, neste sentido inferimos e agredimos a sensibilidade, enquanto críticos percebemos algo inquietante, as coisas avançando os problemas começam a aparecer.
O progresso que era ilusório revelou-se ambíguo, o atraso cresceu na mesma proporção do avanço; a lei que tornou o tempo livre abriu a perspectiva, o conceito que se desenvolve no espaço aberto ganhou a amplidão que complementa o homem atual.

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